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The one with the city

Não é que 2022 tenha sido um ano horrível, mas definitivamente não foi um ano que eu classificaria como bom. Eu até poderia rascunhar aqui toda uma lista de culpados pela decepção, mas acabaria não sendo tão longa quanto minha própria lista de culpas.


Quando lembrar desse ano, acho que inevitavelmente vou pensar naquela semana em Maio, dias antes de viajar para o Brasil. A enxaqueca já me inibia de fazer quase qualquer coisa (incluindo atividades normais como, sei lá, dormir), mas lá estava eu, colada na cadeira do escritório, absorta em um monitor que pouco ajudava com a dor (para não dizer o quanto contribuia em piorá-la), tentando terminar um relatório pedido de última hora. 


Tenho aquela cena bem vívida; a cabeça com pelo menos vinte pontos de inchaço, onde as agulhadas da anestesia entraram, depois de ter sido arrastada ao pronto socorro por um marido desesperado. Tudo saía de foco, enquanto eu tentava espremer um pouco mais da minha limitada energia em prol do relatório. 


Aquele momento vai ficar para sempre como uma representação fiel do que foi 2022; um constante exercício de não ser (ou não estar) suficiente, uma síndrome do impostor e uma catastrofização que levou embora não só minha saúde mental, mas a física também.


Para não ser de todo ingrata, reconheço que coisas legais aconteceram, claro, mas acho que termino o ciclo com essa sensação sufocante de não ter aproveitado o que deveria. Aliás, pior, de ter aproveitado demais o que não deveria. Imergi a fundo em cada frustração, me entreguei a tragédias delineadas (apenas) na minha cabeça, e deixei que isso guiasse boa parte das minhas emoções.



Semana passada fui à Nova York, com o restinho do que sobrou das férias. Eu adorei a viagem, mas nos últimos dias sofri essa epifania que me lembrou bastante do por que eu abandonei a cidade grande há alguns anos. Foi uma epifania bem pessoal, que não faz muito sentido explicar aqui, mas posso dizer que nenhuma palavra descreveria o alívio que senti ao voltar e ver as montanhas, as minhas montanhas.


De madrugada, exausta, retirando pelo menos dois centímetros de neve do carro para conseguir chegar em casa, eu me sentia feliz por estar aqui. Apesar de tudo, sou muito grata pelo que me permite amar muito mais essa minha vidinha rotineira que qualquer vida de viagem.




Prometi a mim mesma que simplificar (o layout, os textos, o ritual) me traria mais por esses lados e, bem, não aconteceu. Talvez ano que vem, talvez nunca mais. Se tem uma experiência que quero levar para 2023, é que pressões e expectativas já não me cabem mais.

Como venho mantendo minha sanidade na pandemia

Ou como não perdi completamente minha já tão limitada estabilidade emocional, mesmo vivendo em um loop infinito estilo Groundhog Day.

Se me dissessem, lá em março de 2020, que um ano depois isso tudo ainda não teria acabado, eu não acreditaria. Ou talvez até acreditasse, no mais puro deboche. "Nada está ruim o suficiente que não possa piorar", resmungaria resignada.

O fato é que, 365 dias depois, quase nada mudou. 365 voltas cujos acontecimentos poderiam ser facilmente condensados em uma única. Acordar, não se dar ao trabalho de tirar o pijama, conversar com uma tela, dormir.

Tudo bem, talvez eu esteja sendo injusta, e um tantinho melancólica. Por enquanto, eu sigo fazendo o possível para não me afogar, e até tenho alguns dias bons de normalidade aqui e ali. São os dias que eu mesma me forço a espremer alguns limões, a começar um novo projeto, inventar algo na cozinha, ou simplesmente deitar por horas na cama, com o gato ronronando e um livro a tiracolo.


Atualizações de Primavera

Esses dias me bateu uma vontade de escrever no blog, mas eu achei que ficaria um tanto estranho aparecer aqui do nada, com um assunto aleatório, sem dar qualquer satisfação sobre meu sumiço nos últimos meses.
Pois bem, como vocês devem imaginar, minha mais-óbvia-e-recorrente desculpa é o famigerado último semestre do mestrado.

Não posso deixar de ressaltar que, chegando nessa reta final, a faculdade se desfez em desânimo. Principalmente nas últimas semanas, tudo o que eu mais queria da vida era terminá-la. Simplesmente já não tinha mais a mesma disposição para tantos projetos, provas, listas de exercícios, trabalhos em grupo, aulas, apresentações, grupos de estudos, etc etc. Eu estava saturada, e sentia que já não havia espaço no cérebro para enfiar mais coisas.
É inegável que aprendi muito até aqui, e que o mestrado abriu portas que jamais seriam abertas de outra forma. No entanto, entrar naquela sala de aula no último mês era ter a certeza de que o mundo acadêmico precisava finalmente ficar para trás. Era hora de ter uma ~vida normal~; acordar, ir para o trabalho, voltar, deitar no sofá e assistir Netflix até dormir, sem culpa alguma por não estar adiantando as toneladas de lição no lugar.

Eu sempre fui a louca ~acadêmica~. Graças ao bacharelado em período integral, comecei a trabalhar muito tarde e, quando comecei, tratei de me enterrar em mais livros/cursinhos para passar em um concurso melhor.
Quando passei, mudei de país e lá fui me enfiar em mais uma faculdade. Eu simplesmente não sei uma maneira melhor de progredir, e, mesmo sendo mais complicado, estudar sempre me pareceu o caminho mais óbvio.

Finalmente acabou, e, bem, sobrevivi. Estudar nos Estados Unidos não foi nem de longe o bicho de sete cabeças que eu achava que seria, mas estudar E trabalhar continua sendo uma roubada em qualquer lugar do mundo. Foram muitas noites de 4 horas de sono, muitas idas à biblioteca no meio da nevasca, muitos finais de semana trancada no porão/escritório, e muito (!) shampoo a seco, porque tempo para lavar o cabelo não havia.


Pode parecer pouco, ou "só um papel", mas o diploma me fez sentir como se minha transição estivesse - finalmente - completa. Praticamente uma validação de que eu realmente faço parte dessa "sociedade", de que agora tenho um espacinho só meu por aqui.

Toca fitas

imagem original: ebay
Às vezes eu busco seu nome no google. Você não estava mais aqui na época da internet, mas, tendo um nome comum, corro os olhos por cada linha, com uma esperança absurda de encontrar seu perfil em algum lugar.

Eu não te conheci muito bem. Não sei exatamente seus gostos, seus hobbies. Disseram-me que gostava muito de mim, e às vezes tenho uma certeza enlouquecedora de que foi exatamente em mim que pensou naquele momento.

Tantos segundos roubados. Se você chorou e abraçou a mamãe no meu primeiro dia de aula, como seria quando me visse formada? Na faculdade que você sempre sonhou pra mim? Como seria me ensinar a dirigir, me levar ao altar? Como teria sido a narrativa, a travessia do primeiro limiar?

Eu ainda guardo seu antigo toca-fitas, sabe. Sua voz ainda está lá.

Moon List #1

Queria mesmo chegar aqui e fazer um post imenso sobre a vida, o universo e tudo mais, mas com os exames finais, até meu tempo para lavar o cabelo passou a ser cuidadosamente calculado.
Para me salvar, vi uma tal de Moon List no blog da Tany, e me pareceu um projeto perfeitamente despretensioso para tempos tão atarefados. Pelo o que entendi, a ideia é baseada em um projeto homônimo de um fotógrafo, no qual ele e a esposa escrevem, a cada mês, sobre tópicos que englobam os 30 dias desde a última lua cheia:

Natureza

Utah é lugar que de fato transparece as quatro estações do ano, mas as que eu realmente sinto - ou seja, quando começo a praguejar -, são o inverno e o verão.
Meu contato com a natureza nas últimas semanas consistiu em cavar tirar a neve da frente da garagem, somente para assisti-la preencher toda a calçada poucos minutos depois. O que era lindo em dezembro, se tornou deveras inoportuno em março. As poucas vezes que admirei o clima foi voltando para casa, depois da faculdade + estágio, cansada e sem forças até mesmo para encontrar um lado negativo no frio.



Objeto

Em 2018 eu venho procurado manter hábitos mais ecológicos e sustentáveis, e o grande acerto nesse último mês for ter trocado meu shampoo convencional pelo shampoo sólido. Sem ingredientes sintéticos e com menos impacto ambiental, me achei mesmo na obrigação de tentar.
Confesso que, há uns 6 anos, quando fiz a transição para shampoos sem sulfato e/ou silicones, meu cabelo não aceitou muito bem (veja bem, sou brasileira e não desisti). Porém, dessa vez, foi uma experiência totalmente diferente. Era como se meu cabelo tivesse se libertado de toda a química pesada e agressão em uma lavagem; ele ficou mais macio, volumoso, e com cara de limpo por muito mais tempo.
Lembrei da minha vó, que dizia sempre lavar os cabelos com sabão de coco natural na adolescência, e eu nunca levei a sério. Desculpa, vó. A senhora estava certíssima.

super recomendo.

Surpresa

Ainda em busca de um 2018 mais saudável, eu diria que minha maior surpresa nesses últimos 30 dias foi ter me livrado, finalmente, do Instagram. Eu já sabia que isso iria acontecer, aquele espaço nunca foi mesmo para mim. Não somente a FOMO, mas todo o oceano de vidas 100% perfeitas, paisagens fabricadas, sorrisos infelizes. Ultrapassava a vaidade e se moldava em uma angustia, uma depressão por aquele universo paralelo tedioso. Uma depressão por alguém precisar daquele universo paralelo. Na minha cabeça, não fazia mais sentido reclamar de toda a toxicidade, gatilhos e falta de realismo, porém continuar sendo parte e alimentando tudo aquilo.
Desativei, e, no fim, foi mais simples do que eu esperava. Eu poderia até escrever um textão sobre como a vida melhorou sem o aplicativo, mas a real é que a vida já estava indo (aos trancos e barrancos, como deve ser) bem, obrigada. Apenas me livrei de um gatilho que tentava constantemente me convencer do contrário.


Encontro

Não teve um encontro ao vivo e a cores, mas uma pessoa muito querida veio falar comigo depois de muito tempo. Disse que sentia minha falta, que queria que eu fosse muito feliz. Aquilo fez uma diferença tão grande no meu dia, que eu me perguntei por que eu mesma não paro para mandar essa mesma mensagem para as pessoas que passaram. Acho que eu sou muito do tipo de pessoa que passou, passou. Não morre, mas deixa de existir. Não stalkeio, nem vou atrás. Só deixo passar e virar uma lembrança desfocada de uma outra vida.
Confesso que é uma característica bem conveniente para certos tipos de passageiros, mas outros a gente ainda quer dividir o trem vez ou outra. Nem que só para uma prosinha rápida, um aceno amigável, ou mesmo uma closure, antes de descer na próxima estação.




À noite

Todas as vezes que vou ao cinema, nas noites de sábado ou de terça (cinema a 4 doletas, quem nunca) são especiais. Amo aquele cheiro de carpete velho com pipoca, a falação adolescente na fila dos doces, os quinze minutos escolhendo o sabor do refrigerante (que eu sempre misturo, tipo fanta cereja com sprite pêssego, e faço o marido adivinhar).
Filme ruim, filme bom, não importa. É a expectativa de um novo mundo. A despreocupação de, ao menos por aquelas 2 horas, se deixar levar por outras vidas, novas histórias. Voltar encostada no vidro do carro em silêncio - porque já é meia noite e estamos tão cansados -, e pegar no sono admirando as luzinhas em cada casa do vale.


De dia

Se paro para lembrar do meu último mês, mal consigo ir além de um borrão na escrivaninha. Os únicos dias que se destacam de alguma forma, são os que o marido, com pena da mulher zumbi aqui, faz um convite-intimação a dar um tempo nos livros e sair para tomar um sorvete. Em dias mais aventureiros, veja só, dirigimos até Provo, e provamos algo diferente (ou algo bem comum, como pão de queijo ♡). Mês passado fomos a uma burgueria chamada Chom e experimentamos a Beyond Meat, uma proposta de "carne" vegetariana, com uma textura e gosto até que bem satisfatórios. Aliás, me aprazou tanto que, desde então, só compro "carnes" vegetarianas para casa. Mais uma para a lista do 2018 mais saudável.


Tempo sozinha

Qualquer dia desses eu preciso fazer um texto de ode ao porão, minha parte favorita da casa nova. O plano era transformá-lo em um mini cinema, com projetor e sofá reclinável - como era na época do proprietário anterior -, mas os estudos o transformaram em um recanto silencioso e vazio, onde passo tardes enclausuradas lendo, programando, assistindo video aulas, ou - quando a disposição permite - fazendo yoga solo com a ajuda de aplicativos. Um dia ainda vou retomar a ideia do mini cinema, mas por agora tudo que eu preciso é um espaço aconchegante, onde eu possa me dedicar a mim mesma.


Tempo com um amigo

Ela nunca presenciou de fato, mas esteve comigo em cada caminho. Treze anos de conversas na fila do ônibus, entre as araras das lojas, aguardando o trânsito na Berrini, ou esperando a chuva torrencial da paulicéia dar um tempo debaixo de uma marquise qualquer. Nada mais justo que ela me acompanhe hoje em dia, nos trens por vezes tão gelados, pelas montanhas do vale. Faz todo sentido e eu acho que a vida vai ser assim pra sempre. O telefone sempre vai tocar, e ela sempre vai me atender com um "E aí Kááá", toda animada. Porque ela não é só a melhor pessoa, ela é a minha pessoa. E nunca permitimos que a distância, seja 500 ou 10.000 km, nos afetasse de qualquer forma.


Filme/Tv/Livro

Sou suspeita para falar, afinal ela é meu role model fictício desde que virei gente. Em gráficos poligoniais ou hd, lutando contra dinossauros, múmias, ou tentando sobreviver a uma ilha amaldiçoada, não importa. Tudo nela sempre me fascinou; independência, ambição, a não necessidade de macho, capacidade de auto defesa, inteligência. Mesmo eu sendo muito preguiçosa e pobre para sair por aí desbravando lugares inóspitos, sempre sonhei com duas uzi's e uma mansão com um labirinto gigante só para mim.
Ao contrário de muito fã raiz, amei o novo filme, e ainda estou tentando entender como nomearam uma ""heroína"" de saia curta e botinha, tão debilitada por um plot todo romântico-açucarado, como o ícone feminista de 2017. Lara Croft é, e sempre vai ser, o meu exemplo máximo de feminismo.

acredite, uma heroína que não parece estar em uma propaganda de shampoo enquanto luta

Ato Criativo

O pico do meu ato criativo está em exatamente escrever esse post. Como já disse no início, tempo para lavar o cabelo virou luxo, idealize tempo para blogar.
Agradeço imensamente tags como essa, que dão um empurrãozinho quando a mente está exausta demais para uma última arrancada criativa. E torço para que, ao contrário de 99% dos projetos bloguísticos por aí, esse não caia no esquecimento.

ps. Sei que objeto tem duas entradas, mas por uma opção pessoal, resolvi fazer apenas em relação ao novo.

Restrospectiva 2017

Eu tinha uma resolução para 2017. Direta, plausível, uma só. Parecia simples. Afinal, quão difícil pode ser seguir apenas uma direção? O que poderia dar errado quando se tem apenas uma meta a cumprir?
Respondo: Pode ser muito difícil, muita coisa pode dar errado.
Ainda mais quando seu único objetivo é se fazer feliz.


Eu não quero cuspir para cima e dizer que 2017 foi um ano horrível, porque, juro, não foi. Sequer entrou para a lista dos top 5 (alor, 2013!). Não, 2017 foi mais um daqueles anos de aprendizados tapas na cara. O ano que a vida me olhou e disse "então você acha que já cresceu tudo que tinha para crescer? HA."

A boa notícia é que ele acabou e eu o venci. Ok, vencer é uma palavra forte. Meio capenga, insegura dos próximos passos, ao menos eu o terminei.
fonte: Sarah's Scribbles
Em 2017 eu quis muitas coisas. Veja bem, foram muitas coisas mesmo. E consegui várias delas. Só que apenas uma mão cheia me preencheram, poucas me trouxeram a paz interior que eu imaginava alcançar. E o ruim de querer várias coisas é que, se elas não te trazem algum conforto, você não deixa de querer. Pelo contrário, você acaba querendo ainda mais. Alguma hora há de preencher, certo?
Fuén, errado.

Então eu fiz o que qualquer homo sapiens em sã consciência faria: eu reclamei. Minha nossa, como eu reclamei nesse 2017. Reclamei demais e, pra ser bem sincera, ainda não consegui parar totalmente.
Porque nada estava bom, nada estava completo, nada estava perfeito.

Da onde eu tirei essa ideia maluca de que deveria ser perfeito, eu não saberia dizer. O que outrora me fascinava - essa habilidade que a vida tem, de dar voltas quebradas por caminhos atravessados -, agora só conseguia me deixar cada vez mais ranzinza. Quando olho para trás, percebo que não bastava tudo estar bem, as coisas estarem dando certo. Elas tinham de dar certo do jeito que eu queria. Isso mesmo, uma receita prontinha para a frustração.


Como se não bastasse, eu ainda passei boa parte do ano me cobrando. Me importando demais com coisas materiais. Me alimentando mal. Fazendo atividades que me deprimiam. Aturando gente mesquinha. Odiando gente mesquinha. Resumindo, retrocedendo de tudo que havia evoluído nos últimos 4 anos.

Não vou negar, fiz amigos excelentes nesse 2017. Arrisco dizer que amigos para a vida toda. Gente capaz de me colocar pra cima, assim, num estralar de dedos. Só que foi nesse ano que eu conheci o lado detestável dos americanos também.
Pudera, até 2016 eu estava presa e segura nessa redoma feliz que são os amigos do marido. Gente que, mesmo eu quase nunca encontrando hoje em dia, sempre manda lembranças, presentes, docinhos (me alimentar é o caminho mais rápido para o meu coração).
Dai lá fui eu, voar com as minhas próprias asas. Enfiar-me em círculos duvidosos, munida apenas de um escudo afável e macio, todo construído em anos de hospitalidade brasileira. Me fodi. Passei aí, uns belos meses tendo de conviver com gente frívola, machista e desleal.
Graças aos deuses, passou. Cresci. Made my skin a little bit thicker.

Às vezes eu acho que trabalhar demais feat. estudar demais faz um pouco isso com a gente. Se deixarmos, claro, nossa vida vai ficando cada vez mais vazia, cada vez mais janta-banho-cama. All work and no play makes Jack a dull boy. E corremos para complementá-la de qualquer forma, nem que seja com sentimentos desconstrutivos. Punhados perecíveis de tudo; bens, amizades, amor próprio. Veja bem, veda o buraco temporariamente, mas pede a conta no final.

Ainda não querendo ser injusta com 2017, nesse ano eu me senti deveras recompensada pelo meu esforço. Nesse ano eu fui muito amada, se não por mim, pelas pessoas que eu mais quero bem. Nesse ano eu me provei várias vezes, para mim mesma e para os outros (não que precisasse). Nesse ano eu conquistei coisas que não imaginava que viriam tão cedo. Em 2017 eu arrisquei, aprendi, amei, cresci.

Pedaços de 2017: Hawaii - Canadá - Bear Lake

Acho que parte do segredo é saber se dar um desconto também. Li muito menos do que gostaria, e o Reading Challenge 2017 ficou pendente. Sei que foi graças ao mestrado, já que, antes de começarem as aulas, vinha mantendo um ritmo até aceitável de leitura. E não espero mudar isso em 2018. Pelo contrário, a faculdade ainda vai tomar longos 8 meses da minha vida, e só eu sei como é chegar em casa à meia noite, abrir o kindle e não sair do mesmo parágrafo até apagar completamente.
Não adianta querer dar um passo maior que a perna, muito menos perder a paz se culpando por não chegar lá.

Se eu ao menos tivesse me dado conta disso mais cedo.

Já disse aqui inúmeras vezes que lista de resoluções não são para mim e não vou recuar dessa vez. Mantendo a tradição do mantra único, sem muitas expectativas, fica o direcionamento para 2018: Está tudo bem diminuir o ritmo, parar de se cobrar, de querer mais, de buscar o inalcançável:

You gotta know just when to fold.

Tradições Natalinas

Já é esperado que a combinação bom velhinho + neve + pisca-pisca desperte sentimentos de abraços quentinhos na minha pessoa (textão de ode à data aqui). No entanto, o fato de ser o primeiro Natal na casa nova e, de quebra, o primeiro com a mamãe vindo visitar, culminaram em um frenesi natalino mais intenso que o normal.


É como se o mês de dezembro tivesse girado todo em torno da data, com tradições antigas e hábitos fresquinhos se unindo para me distrair da grande pressão dos exames finais (e decisões profissionais pesadíssimas). No fim, acabou sendo o melhor mês do semestre, e eu só queria que Papai Noel pudesse dar uma passadinha rápida todo dia 25.

A árvore

Confesso que gosto das falsas, e quanto mais dobrável (leia-se fácil-de-guardar), melhor. Acontece que o marido tem toda essa nostalgia com o cheiro dos pinheiros e, depois de ler esse artigo, concordei em sair à procura de um espécime verdinho e perfumado.





Meta para o próximo Natal: uma árvore viva, em um vaso, que eu possa manter e enfeitar por anos.


A decoração

As mesmas guirlandas, festões e enfeites de sempre, mas como é bom tirar todos da caixa e pendurá-los mais uma vez! Sendo 2017 como foi, não pude deixar de sentir um misto de dever cumprido com, por falta de expressão melhor, alívio em ter sobrevivido.


papai noel em dezembro / treinador da Utah o resto do ano

A trilha sonora

Meu negócio é os clássicos; Sinatra, Bing Crosby, Dean Martin. Sendo assim, Christmas Classics foi a playlist que mais escutei - praticamente todos os dias, em loop eterno - no caminho da ida e volta do trabalho.

A maratona

Esse ano eu estava um pouco sem humor para filmes de Natal (já que vimos uns 20 no ano passado e eu ainda lembro de todos eles), então decidi maratonar todos os episódios natalinos das séries favoritas. Com direito a Supernatural e velhinhos canibais, claro.



Os cookies

O que inspiraria mais o sentimento natalino do que esses gingerbread cookies deformados pela minha falta de habilidades confeiteiras?



As luzes

Salt Lake City não decepcionou e o centro estava lindo, festivo e iluminado. Assistimos uma apresentação de coral e enfrentamos os -5° C para darmos uma volta e tirarmos algumas fotos na praça principal.




Menção honrosa

Somente o melhor presente de Natal ever: Um SNUGGIE DE HOGWARTS!

Porque cair no sono e babar no sofá vestida como uma verdadeira bruxinha é tudo o que eu precisava nas minhas noites de inverno.

Happy Holidays!

Das abóboras

Fosse para escolher uma estação favorita, certamente seria o Outono.

A temperatura se torna mais amena, o calor já não sufoca mais. As cores vibrantes, tons de laranja e amarelo, preenchem as montanhas como fagulhas. É como se tudo ao meu redor estivesse se preparando para uma grande mudança, deixando para trás as folhas, as aparências que já não servem mais, e eu não consigo evitar de me sentir da mesma forma.


O que me causava um leve incômodo, de repente, parece insuportável. O comodismo já não faz parte de mim, as escolhas não paralisam mais. Quero gritar, correr, bradar minha insatisfação, tomar as rédeas. Não é o impulso que toma conta, é a coragem de fazer o que eu já deveria ter feito, enquanto a apatia e o mormaço asfixiante do verão não deixavam.

O blog, esse desapegou de vez do layout semi profissional. No melhor estilo post-extravasador da Ana, assumiu de vez sua identidade diarinho e seu lado pior blogueira do mundo.

Life



Eu queria poder dizer que eu voltei agora para ficar, que aqui é meu lugar, mas com essa vida acontecendo, não sei dizer bem quando poderei dar as caras novamente.

Para resumir os últimos meses, os Estados Unidos, que até o começo do ano ainda era sombra e água fresca, virou do avesso. Virou trabalho, mestrado, obrigações e adulthood. Ia acontecer eventualmente, eu sei, mas a gente sempre quer acreditar que o verão vai durar eternamente.

Ainda hoje eu me peguei pensando no ponto A e no ponto B, nessa longa curva entre eles, e fica difícil equacionar como cheguei aqui. Pensar que nos últimos posts, lá estava eu, recolhendo ovinhos coloridos no parque, animada por mais uma viagem, por mais lugares novos para explorar. E agora não tem mais viagem, pelo menos não por um ano. Mestrado é coisa séria, minha gente, e férias de inverno/primavera não há. O trabalho e a falta de feriados americanos colaboram menos ainda. É oficial, a festa acabou. What now, Joseph?

Posso dizer que é por uma boa causa e vou levando até que bem. As notas estão boas, os managers satisfeitos. Aliás, está aí outra coisa que jamais imaginei na vida; trabalhar em uma das maiores empresas do mundo corporativo yankee. Estressante? Tem dia que se eu não matar um até o meio dia, não sobrevivo. Mas recompensador. Especialmente pela troca de culturas, de experiências de vida, de amizades transoceânicas. O parceiro de trabalho indiano, a colega de sala italiana, o manager americano, a dupla na lição de casa chinesa. Estudar e trabalhar nos EUA é como fazer parte de um grande caldeirão de misturas, é se acostumar com os mais variados sotaques, achar graça nos mais variados sensos de humor. E se sentir uma pequena, mas significante parte do mundo. Como se tivesse um lugarzinho reservado ali só para mim.

Por falar em lugarzinho, agora eu finalmente tenho o meu. Ela tem jardim florido, cerca branca e mais quartos do que eu jamais vou usar. E minha. E nossa. Veja só, meu nome em uma hipoteca no norte do mundo. Mais um desvio na curva que eu jamais seria capaz de prever, que eu sequer acreditaria se me contassem há pouco mais de um par de anos.



Das leituras de 2017, no entanto, ficaram só decepções. Era uma vez existiu essa meta de ler 4 livros por mês. Agora, o tempo livre foi todo ocupado por programação e modelagem e sql e R e dashboards infinitas e... socorro. Sinto muita falta da Agatha, da Rowling, da R.J Palacio. As séries então, só consegui maratonar HIMYM porque os episódios de 20 minutinhos eram todo o tempo que eu tinha entre jantar e dormir.

"É tudo por uma boa causa", repito. E repito tanto que acredito. E acordo mais um dia para enfrentar esse frio cortante de Utah, nessa vidinha que vou construindo aos poucos. Por que quem sabe que intrincada equação me levará ao ponto C dessa vez.

Da decisão acadêmica

Estou aqui, sentada com o note no colo, encarando o cursor piscando na tela há horas, me sentindo incapaz de redigir qualquer resposta às faculdades. Não consigo evitar de sentir um gosto amargo enquanto junto palavras para justificar minhas recusas. Não apenas por ter sido incrivelmente bem tratada nas visitas que fiz durante o mês de Abril, mas também pelas oportunidades que me sinto deixando para trás.

É claro que boa parte dessa minha ansiedade se justifica pelo fato de que essa não é apenas uma escolha desleixada chocolate/baunilha, mas sim um presságio, um enorme golpe de sorte para onde posso direcionar minha vida. Quero dizer, eu até me considero uma pessoa pragmática e metódica quando se trata de assuntos acadêmicos, porém, mesmo tendo ponderado todos os cenários, mesmo depois da listinha pro/con Rory Gilmore, acabei por finalmente me conformar do óbvio; não é possível ter certeza do futuro. Não posso, e jamais poderei, confirmar qual seria a decisão mais acertada, mesmo porque não tenho outras realidades paralelas para testar. Sylvia Plath me entenderia.

lista pro/con no bujo

Se eu pudesse, eu reviveria Abril over and over again. Foi um privilégio poder viajar fazendo tours pelas faculdades, cada uma com suas instalações e equipes incríveis. Ter meu currículo elogiado por acadêmicos com trajetórias profissionais que eu jamais sonharia em conhecer. Visitar cidades tão diferentes, do norte frio e provinciano ao sul quente e florido. Sei que cada um dos professores que conheci, cada arquitetura única, cada laboratório com equipamentos de última geração ficarão guardados na minha memória para sempre. Porque foram as instituições que me aceitaram, que me acolheram, que me julgaram digna dos seus cursos.

Syracuse, NY
No entanto, nesse momento, uma delas se destaca afinal.

A Universidade de Utah foi fundada em 1850, pelo mesmo fundador da capital do estado, Brigham Young. É uma Universidade pública  (o que, infelizmente, nos EUA não significa "de graça") com aproximadamente 30 mil alunos. Fica localizada nas montanhas, e sua arquitetura foi toda reformada, o que ainda estou tentando me acostumar, já que sempre imaginei as universidades americanas com aqueles prédios britânicos antigos característicos na costa leste.
fonte da imagem





Com todas as opções de paisagens ao redor - lagos, montanhas, florestas, deserto -, um dos maiores atrativos para os estudantes é definitivamente a inúmera quantidade de atividades outdoors que Utah oferece (snowboard, escalada, trilhas, biking, etc). Além disso, a faculdade ainda conta com um grande diretório de clubes para os alunos (desde capoeira a League of Legends) e é possível usar o ginásio do campus para outras práticas esportivas, como academia, yoga, natação ou aulas de golfe. Com esse apelo mais "aventura", reconheço que a universidade não pareceu muito atraente para quem se interessa mais pela agitação da vida noturna, barzinhos & adjacentes, o que, para ser sincera, nunca foi meu caso.

A Biblioteca Marriott conta com mais de 3 milhões de exemplares

Juro que achei que tinha um aluno escalando o prédio, mas era só um boneco de incentivo aos graduandos xD


As montanhas cercam todo o lado leste do campus

Estádio Rice-Eccles, onde ocorrem os jogos universitários de futebol americano

O estágio também foi palco da abertura e encerramento dos jogos olímpicos de 2002
No mestrado para o qual apliquei, as aulas são todas à noite e não há férias (ai :/), o que significa que é possível terminá-lo em 1 ano. Algumas matérias são especificamente focadas no mercado de trabalho, nas quais você trabalha diretamente com consultoria para empresas reais. Aliás, o departamento ainda disponibiliza um conselheiro de carreira, para que você possa fazer tours pelas companhias locais, participar de feiras de empregos e ser posicionado no cargo que mais combinar com suas habilidades. Os conselheiros chegam a fazer até entrevistas de mentirinha para treinar, o que, confesso, me soou meio engraçado.

O prédio onde irei estudar






Enquanto junto as fotos para o post, pulo para lá e para cá nas abas do navegador. A cada foto, adiciono também um novo parágrafo em cada email. Tento me aquietar com a decisão tomada e penso no quanto sou eternamente grata pelos figos suculentos e macios que me ofereceram. Não posso deixar que todos eles murchem e apodreçam aos meus pés. Termino as respostas. Conto até dez e envio.

E assim começa uma nova jornada, que floresce em novos galhos na minha figueira.
Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história.
Na ponta de cada galho, como um figo gordo e roxo, um futuro maravilhoso acenava e piscava. (...) Eu não conseguia prosseguir. Encontrei-me sentada na forquilha da figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia optar entre um dos figos. Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés."
Sylvia Plath - A Redoma de Vidro 

Um ovo, dois ovos, três ovos assim

Correndo o risco de parecer a diferentona, devo confessar que chocolate não é exatamente meu doce favorito. Quero dizer, bolo de chocolate ok, leite com nescau também. Agora, chocolate por chocolate, a barra mesmo, nunca me apeteceu. Por essa razão, desde que mudei para os EUA, não me importei muito de substituir a minha tradição de Páscoa, a consagrada "troca de ovos de chocolate", pela tradição local, a egg hunt.

egg hunt consiste em decorar ovos cozidos (sim, os de galinha mesmo) com tinta, glitter, cola, adesivos e qualquer outra coisinha que insista em penetrar em cada fibra do meu carpete. Depois, a ideia é escondê-los em alguma área aberta e chamar as crianças para "caçá-los" na manhã de Páscoa.

arsenal de Páscoa



Aqui em casa não temos crianças, mas dois adultos extremamente apegados a tradições. Sendo assim, escolhemos comemorar a Páscoa com a nossa própria egg hunt competitiva, de regra simples e clara: cada um esconde seus ovinhos e, quem achar os do outro primeiro, ganha.

Não posso deixar de destacar que, como esse ano não estaremos em casa no domingo, a cena de dois adultos carregando cestinhas, procurando ovos coloridos no parque em um dia de semana qualquer foi um tanto quanto chocante para os transeuntes. Precisamos repetir ano que vem.




Em tempo, apesar de não terem os ovos como no Brasil, os mercados daqui vendem vários "doces de Páscoa", o que inclui também chocolate (alguns até em formato de ovos, mas bem pequenos), e muito marshmallow. Os meus favoritos (e mais comuns nessa época) são os Peeps, um marshmallow com açúcar que lembra muito aquele sorvetinho de maria mole, que vinha com uma bexiga grudada e que você provavelmente só vai conhecer se também cresceu com doces baratinhos dos anos 80.

peebs ♥. fonte
E você? Como comemora a sua Páscoa?

Esse post faz parte da blogagem coletiva "Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?" da Café com Blog. Não deixe de conferir os outros posts de Abril: