Tecnologia do Blogger.

Como venho mantendo minha sanidade na pandemia

Ou como não perdi completamente minha já tão limitada estabilidade emocional, mesmo vivendo em um loop infinito estilo Groundhog Day.

Se me dissessem, lá em março de 2020, que um ano depois isso tudo ainda não teria acabado, eu não acreditaria. Ou talvez até acreditasse, no mais puro deboche. "Nada está ruim o suficiente que não possa piorar", resmungaria resignada.

O fato é que, 365 dias depois, quase nada mudou. 365 voltas cujos acontecimentos poderiam ser facilmente condensados em uma única. Acordar, não se dar ao trabalho de tirar o pijama, conversar com uma tela, dormir.

Tudo bem, talvez eu esteja sendo injusta, e um tantinho melancólica. Por enquanto, eu sigo fazendo o possível para não me afogar, e até tenho alguns dias bons de normalidade aqui e ali. São os dias que eu mesma me forço a espremer alguns limões, a começar um novo projeto, inventar algo na cozinha, ou simplesmente deitar por horas na cama, com o gato ronronando e um livro a tiracolo.


Seguir o fluxo

Setembro foi um mês difícil. Assim, muito difícil mesmo. Tive de lidar com emoções que desconhecia, ou que há muito não tinha contato. Tive não, ainda estou lidando, aprendendo, superando. Esquecer jamais, porque é parte de mim, mas aos pouquinhos, a cada dia, descobrir como moldar o sofrimento em boas lembranças. Não sou mais a Kari do dia primeiro de setembro, e nem deveria ser.

Venho me aprofundando nessa aceitação da impermanência. Porque talvez eu pudesse me empenhar - um esforço confortante, mas ineficaz - em manter a "vida antiga". Ou eu poderia simplesmente aceitar que tudo está mudado para sempre. Eu, minha família. E a única certeza que podemos ter, para sempre, é que continuaremos em constante transição. Que pena, mas que bom; afinal, a dor também é impermanente.

Foto inspirada pelo projeto Whats your Grief
Lembrei desse espaço, porque, apesar de dizerem por aí que a arte de blogar está morta, ainda é um lugar em que posso exercitar a pequena veia criativa que carrego. Sempre foi por mim, sabe? Seja por registrar memórias, pelo exercício mental de conciliar imagens e texto, por expressar esse amadorismo (!) que tenho com as palavras. Por extravasar também, mas de um jeito só meu; contido e libertador. Senti falta dos posts levinhos de listas e resenhas, mas senti falta também de posts em que tiro um pouco dessa máscara de proteção e transpareço o que me inquieta.

Aproveitei para limpar minha lista no feedly e, confesso, me entristeceu um tantinho ter de passar tantos blog para a pasta de Desatualizados. Não que eu tenha direito de ficar chateada, até o momento também sou parte do problema. Ao mesmo tempo, me encheu de alegria ver que projetinhos ainda vivem e que existem tantos blogueiros determinados a manter essa tradição. Já mencionei aqui como blogs-diarinho foram parte do meu primeiro contato com a internet, e acredito mesmo que essa fase da minha vida ainda não está concluída.

Espero que me aceitem de volta :).

Da quarentena

Em muitos aspectos, por aqui, a vida não parou. Não é querendo desdenhar dos quarenteners, mas nunca trabalhei tanto nessa vida. Minha romantização do home office morreu em 2020, quando descobri que a gente acaba trabalhando muito mais do que deveria e, por vezes, produzindo até menos. Ainda não consigo acreditar nessas palavras saídas da minha boca, mas sinto falta. Sinto falta do escritório, das pessoas, da minha mesa, dos almoços, de expulsar quem insiste em ficar só mais 5 minutinhos na sala de reunião que você reservou com antecedência.

O escritório agora invade a santa paz da minha casa e sinto-me de prontidão 24-7. O expediente corre noite adentro, porque me sinto culpada (pasmém) de sair daquela cadeira às 5. Eu ainda tenho um ofício, afinal, e deveria ser grata por isso.

Work-life balance não há. Saúde mental muito menos.

Saudade dessa vista, né minha filha?