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The one with the city

Não é que 2022 tenha sido um ano horrível, mas definitivamente não foi um ano que eu classificaria como bom. Eu até poderia rascunhar aqui toda uma lista de culpados pela decepção, mas acabaria não sendo tão longa quanto minha própria lista de culpas.


Quando lembrar desse ano, acho que inevitavelmente vou pensar naquela semana em Maio, dias antes de viajar para o Brasil. A enxaqueca já me inibia de fazer quase qualquer coisa (incluindo atividades normais como, sei lá, dormir), mas lá estava eu, colada na cadeira do escritório, absorta em um monitor que pouco ajudava com a dor (para não dizer o quanto contribuia em piorá-la), tentando terminar um relatório pedido de última hora. 


Tenho aquela cena bem vívida; a cabeça com pelo menos vinte pontos de inchaço, onde as agulhadas da anestesia entraram, depois de ter sido arrastada ao pronto socorro por um marido desesperado. Tudo saía de foco, enquanto eu tentava espremer um pouco mais da minha limitada energia em prol do relatório. 


Aquele momento vai ficar para sempre como uma representação fiel do que foi 2022; um constante exercício de não ser (ou não estar) suficiente, uma síndrome do impostor e uma catastrofização que levou embora não só minha saúde mental, mas a física também.


Para não ser de todo ingrata, reconheço que coisas legais aconteceram, claro, mas acho que termino o ciclo com essa sensação sufocante de não ter aproveitado o que deveria. Aliás, pior, de ter aproveitado demais o que não deveria. Imergi a fundo em cada frustração, me entreguei a tragédias delineadas (apenas) na minha cabeça, e deixei que isso guiasse boa parte das minhas emoções.



Semana passada fui à Nova York, com o restinho do que sobrou das férias. Eu adorei a viagem, mas nos últimos dias sofri essa epifania que me lembrou bastante do por que eu abandonei a cidade grande há alguns anos. Foi uma epifania bem pessoal, que não faz muito sentido explicar aqui, mas posso dizer que nenhuma palavra descreveria o alívio que senti ao voltar e ver as montanhas, as minhas montanhas.


De madrugada, exausta, retirando pelo menos dois centímetros de neve do carro para conseguir chegar em casa, eu me sentia feliz por estar aqui. Apesar de tudo, sou muito grata pelo que me permite amar muito mais essa minha vidinha rotineira que qualquer vida de viagem.




Prometi a mim mesma que simplificar (o layout, os textos, o ritual) me traria mais por esses lados e, bem, não aconteceu. Talvez ano que vem, talvez nunca mais. Se tem uma experiência que quero levar para 2023, é que pressões e expectativas já não me cabem mais.

For all the eggs in one basket

Passei esses últimos meses submersa em relatos, devorando qualquer pedaço de narrativa que pudesse me iludir sobre mecanismos de enfrentamento e precaução natural. Prendi-me a fios de esperança frágeis, a maioria travestidos de progressões lineares tão impecáveis que faziam meu estômago revirar de despeito.


Por fim, aceitei (talvez uns cinquenta vídeos tarde demais) que esse processo é intrinsecamente pessoal e intransferível. Reconheci também que não há meios de torná-lo menos angustiante – culpar agentes externos, fingir indiferença, ou até mesmo caçoar dos que levam tudo a sério demais –, you name it, eu tentei.


Ainda não cheguei ao estágio de evitar o assunto, mas o sinto iminente. Arquivo conversas inteiras no celular, me convenço sobre ínfimos percalços, e planejo meus passos de modo a tornar as semanas distrativas, ou minimamente suportáveis.




Não posso dizer que dói, mas assusta. Não que as coisas jamais tenham funcionado dessa forma, mas mal consigo planejar o resto do ano com clareza. Veja bem, eu sei das alternativas, e talvez ainda possa traçar um cronograma no escuro, mas o que eu queria mesmo, de verdade, era não precisar de nenhuma programação. Não era assim que era pra ser?


Ainda assim, me julgo até resiliente nessa batalha diária pela censura do arrependimento. A terapia já me advertiu sobre a linearidade (ou a falta dela) em tantos contextos que, se eu me permitir acreditar por um segundo que seja, todo o esforço seria em vão.

Seguir o fluxo

Setembro foi um mês difícil. Assim, muito difícil mesmo. Tive de lidar com emoções que desconhecia, ou que há muito não tinha contato. Tive não, ainda estou lidando, aprendendo, superando. Esquecer jamais, porque é parte de mim, mas aos pouquinhos, a cada dia, descobrir como moldar o sofrimento em boas lembranças. Não sou mais a Kari do dia primeiro de setembro, e nem deveria ser.

Venho me aprofundando nessa aceitação da impermanência. Porque talvez eu pudesse me empenhar - um esforço confortante, mas ineficaz - em manter a "vida antiga". Ou eu poderia simplesmente aceitar que tudo está mudado para sempre. Eu, minha família. E a única certeza que podemos ter, para sempre, é que continuaremos em constante transição. Que pena, mas que bom; afinal, a dor também é impermanente.

Foto inspirada pelo projeto Whats your Grief
Lembrei desse espaço, porque, apesar de dizerem por aí que a arte de blogar está morta, ainda é um lugar em que posso exercitar a pequena veia criativa que carrego. Sempre foi por mim, sabe? Seja por registrar memórias, pelo exercício mental de conciliar imagens e texto, por expressar esse amadorismo (!) que tenho com as palavras. Por extravasar também, mas de um jeito só meu; contido e libertador. Senti falta dos posts levinhos de listas e resenhas, mas senti falta também de posts em que tiro um pouco dessa máscara de proteção e transpareço o que me inquieta.

Aproveitei para limpar minha lista no feedly e, confesso, me entristeceu um tantinho ter de passar tantos blog para a pasta de Desatualizados. Não que eu tenha direito de ficar chateada, até o momento também sou parte do problema. Ao mesmo tempo, me encheu de alegria ver que projetinhos ainda vivem e que existem tantos blogueiros determinados a manter essa tradição. Já mencionei aqui como blogs-diarinho foram parte do meu primeiro contato com a internet, e acredito mesmo que essa fase da minha vida ainda não está concluída.

Espero que me aceitem de volta :).

Da quarentena

Em muitos aspectos, por aqui, a vida não parou. Não é querendo desdenhar dos quarenteners, mas nunca trabalhei tanto nessa vida. Minha romantização do home office morreu em 2020, quando descobri que a gente acaba trabalhando muito mais do que deveria e, por vezes, produzindo até menos. Ainda não consigo acreditar nessas palavras saídas da minha boca, mas sinto falta. Sinto falta do escritório, das pessoas, da minha mesa, dos almoços, de expulsar quem insiste em ficar só mais 5 minutinhos na sala de reunião que você reservou com antecedência.

O escritório agora invade a santa paz da minha casa e sinto-me de prontidão 24-7. O expediente corre noite adentro, porque me sinto culpada (pasmém) de sair daquela cadeira às 5. Eu ainda tenho um ofício, afinal, e deveria ser grata por isso.

Work-life balance não há. Saúde mental muito menos.

Saudade dessa vista, né minha filha?

Toca fitas

imagem original: ebay
Às vezes eu busco seu nome no google. Você não estava mais aqui na época da internet, mas, tendo um nome comum, corro os olhos por cada linha, com uma esperança absurda de encontrar seu perfil em algum lugar.

Eu não te conheci muito bem. Não sei exatamente seus gostos, seus hobbies. Disseram-me que gostava muito de mim, e às vezes tenho uma certeza enlouquecedora de que foi exatamente em mim que pensou naquele momento.

Tantos segundos roubados. Se você chorou e abraçou a mamãe no meu primeiro dia de aula, como seria quando me visse formada? Na faculdade que você sempre sonhou pra mim? Como seria me ensinar a dirigir, me levar ao altar? Como teria sido a narrativa, a travessia do primeiro limiar?

Eu ainda guardo seu antigo toca-fitas, sabe. Sua voz ainda está lá.

Do mínimo ao ideal

Tive meu primeiro contato com o Minimalismo assistindo a uma palestra no TEDtalk, lá para o finalzinho de 2013. Muita coisa mudou em mim naquele ano (mais ou menos resumido nesse post), e uma delas foi começar a prestar mais atenção na minha convivência com os objetos amontoados em casa.

Até então, eu ainda fazia parte daquele mundo mágico onde abarrotar o armário de fast fashion e maquiagens nunca usadas definiam a fórmula da felicidade. No entanto, apesar de alguns objetos de fato me trazerem alegria, estava claro que eu mantinha a maioria (especialmente aqueles adquiridos na febre pós primeiro emprego meu-deus-agora-eu-tenho-um-salário-e-posso-gastar-vários-dinheiros!!11!!) apenas por uma ilusão de realização pessoal.

Foi no processo chamado decluthering (ou destralhamento) que eu encontrei uma forma de reduzir dolorosamente boa parte das minhas tralhas. Claro que a mudança de casa – e o encolhimento significativo do meu quarto – criou uma obrigação real de desapego, porém, naquele verão de 2014, eu pude finalmente entender o quanto acumular objetos já não me completava, sequer indicava o que eu havia conquistado na vida até então.

Dia desses, assistindo ao documentário dos Minimalistas no Netflix, me peguei refletindo sobre o que a filosofia representou na minha vida nesses últimos três anos. Achei que seria até justo eu dizer que "abandonei" o minimalismo, mas, na verdade, ele tem consequências diretas na minha vida até hoje. Seja dando uma volta no shopping ou faxinando a casa, toda aquela ideia da praticidade, do essencial e do acúmulo consciente ficou internalizada em mim, e acabou virando hábito, assim, sem eu precisar me policiar para isso. No fim, acredito que o que eu larguei mesmo foi aquele Minimalismo idealizado e caga-regra, que a internet insiste em se focar.

Tudo bem, mesmo lá no começo eu nunca consegui aderir à maioria dos projetos relacionados ao Minimalismo. Boa parte deles – Projeto 333, armário cápsula100 things challenge, etc – envolvem receitinhas quantitativas que, para mim, jamais funcionariam (e olha que sou de Exatas!). Fazer inventário de roupas, impor limite numérico para compras, se esforçar para espremer toda a sua vida numa mochila, tudo isso pode até ajudar com a disciplina, mas, por fim, acabam mesmo me causando mais ansiedade que satisfação.

Toda a maquiagem que possuo hoje em dia. Existe algum projetinho com o número cabalístico 10?
Além disso, existe uma visão romantizada que coloca o minimalista como aquele que vai pedir demissão do trabalho e sair mochilando pelo mundo, muitas vezes sem um centavo no bolso. Reconheço que pode até render os melhores blogs, mas acho plausível afirmar que nem todo mundo seria feliz na experiência. Contrariando Elle Lune, em Eu sou as Escolhas que faço, o caminho da segurança nem sempre é apenas o caminho que os outros querem para você. Eu gosto de segurança. Eu preciso de segurança. Almejar um trabalho fixo, dinheiro para viagens com passagens de volta, poder cuidar dos pais quando eles envelhecerem, nada disso é condenável. Somos todos pequenos experimentos da pirâmide de Maslow e, só porque decidi viver com o meu menos, não significa que tenha de me forçar a viver com o mínimo alheio.

Aliás, essa imposição do desapego desenfreado, onde todo e qualquer objeto espalhado pela casa passa a ser visto como inimigo, acaba sendo tão pouco produtiva quando a própria obsessão pelo consumo. Por exemplo, Emilie Wapnick explica que algumas pessoas simplesmente não possuem uma vocação. E esse tipo de indivíduo – eu, oi – acaba por pular de um hobbie a outro, voltando às origens ou criando novos, de acordo com seu processo criativo individual. Coisa de amar estudar música por anos, largar de repente para se dedicar à fotografia, para, dali a uns meses, encostar a câmera enquanto volta para a guitarra. Por essa razão, desapegar de todo e qualquer objeto que esteja "ocupando espaço" na casa não necessariamente é a resposta para todo mundo. Nem sempre esses objetos sem uso no momento estão em excesso; eles podem ser, na verdade, ferramentas que possibilitam exercer paixões esporádicas. E tudo bem não se livrar deles.

É claro que o Minimalismo pode ser encaixado em todas essas situações sem deixar de ser, bem, Minimalismo. Como quase toda ideia jogada na internet; o conceito é genial, o fandom é que estraga. Ao contrário do que muita gente passou a pregar por aí, ele não é, ou não deveria ser, uma seita carregada de mandamentos sobre como manter um guarda-roupa com 47 ½ peças em preto e branco. E eu nem acredito que ele tenha sido pensado inicialmente dessa forma, muito menos é o que os Minimalistas pregam. Só que, infelizmente, a polícia da vida alheia chega ao ponto de fazer com que praticantes evitem o assunto, para não aterrá-lo em exigências extremistas.

O que eu aprendi com o Minimalismo afinal?

Dado que não posso (e não tenho qualquer ambição em) ter tudo, o Minimalismo me ensinou a priorizar o que é de fato importante para a minha vida. Veja bem, prioridades, não privações. Eu mencionei o quanto foi doloroso passar pelo destralhe inicial e, hoje em dia, eu percebo que não precisaria ser. A ideia não é se focar no quanto você possui, mas sim por que você possui. Não há nada de errado em manter sua coleção de livros ou cartas antigas, que te trazem uma sensação de conforto quando relidos. Manter lembranças e outros objetos significativos não vai te fazer menos minimalista que o cara que visitou 60 países com todos os seus bens em uma mochila. A ideia vai muito além disso. Nas palavras de Joshua Millburn: “ame pessoas e use objetos, porque o contrário nunca funciona”.

Ao longo desses três anos, fui jogando fora as receitinhas de internet e me concentrei em viver melhor, com cada vez menos apego material. Aliás, acho que essa liberdade foi a melhor coisa que o Minimalismo me trouxe; aprendi a viver com mais equilíbrio e menos restrições. Isso significou não só uma economia financeira, como acabei apreciando mais bem cada objeto que eu possuo (sem excessos, consigo usá-los muito mais vezes). Obviamente eu não deixei de querer coisas, mas passei a questionar muito mais a utilidade antes de comprá-las.

Por que eu mantinha mais de 30 esmaltes, já que sempre acabava escolhendo o preto, o vermelho ou o azul?
Hoje eu enxergo o Minimalismo como uma forma de não deixar que os bens materiais orientem minha vida, ou preencham algum vazio que deveria ser trabalhado em sentimentos, experiências, pessoas ou relações não substituíveis. E saber atribuir a cada bem material o valor que ele possui nada tem a ver com vestir-se em preto e branco, ou contar quantos batons você tem. Na verdade, é uma ferramenta para preencher seu espaço com o essencial e suas possibilidades, estimulando ainda mais sua veia criativa. Possibilidades, aliás, que dificilmente caberiam em apenas uma mochila.

Black Friday wishlist

É fato que a gente passa por várias mudanças bruscas irreversíveis durante toda a vida. Algumas universalmente reconhecidas; puberdade, passar na faculdade, pagar a primeira conta, etc, e outras que dizem respeito apenas a nós mesmos.

Assim como todo mundo que já passou ao menos da pré adolescência, também sofri alguns desses wake up calls da vida, sendo um dos maiores quando descobri que estava doente lá pelo finalzinho de 2013.

Porque não foi só o meu corpo que, de nunca-pego-nem-gripe, passou a precisar de visitas intermináveis a hospitais, tratamentos, exames incômodos e remédios hardcore. Também não foi só o namoro que acabou, com o ex fugindo para as colinas por não estar pronto para lidar com ~gente doente~. Todo o resto em mim mudou. A forma como eu via as pessoas ao meu redor, como eu buscava meus objetivos, como eu definia minhas prioridades, e até pequenices, como meu jeito de usar a internet e a decoração do meu quarto.

Lembro que foi bem nessa época que eu assisti a essa palestra no TED, e comecei a pesquisar um pouco mais sobre Minimalismo e outras "técnicas para se viver melhor" (nome meio piegas-auto-ajuda, eu sei). É nessa minha pastinha mental que eu misturo os low poos, a hortinha caseira, o espiritismo, o pensar duas vezes antes de escrever qualquer coisa, em qualquer lugar.


Em relação ao consumismo, confesso que nunca fui de gastar o que eu não tinha (minha mão de vaquice é mais forte que eu), mas eu fazia questão de ter um guarda roupas sempre abarrotado, incontáveis produtos de maquiagem os quais eu não usava nem a metade, além de sentir uma necessidade vital de sempre comprar alguma peça da coleção nova do Fulano by C&A (eu era consumista, não rica). Essa questão das roupas se tornou um vício incontrolável, a ponto de eu me sentir incompleta e depressiva quando não dava tempo de comprar algo novo na semana.

Mas, claro, tudo isso passou quando eu fiquei doente, porque né. Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar. De repente estar bem e cuidar da saúde era mais crucial que comprar aquela bolsa nova que ~toda blogueira está usando~. É pesado dizer isso, mas hoje em dia eu tenho a completa noção de como essa época me salvou da pessoa ridícula e mesquinha que eu estava me tornando.

Não que eu tenha me tornado um ser iluminado (apesar de ter me casado com um). Bem longe disso. Não me considero sequer minimalista, só uma simpatizante da filosofia. Sequer sigo fórmulas prontas pela internet (ex. capsule wardrobe), pois tenho pouquíssima disciplina com regras; vou comprando conforme tenho necessidade mesmo, respeitando minha própria mudança gradual.

O resultado é que praticamente não gastei com roupa esse ano. Aliás, passei boa parte de 2016 vivendo com menos de 15 peças no armário, pois o resto do meu guarda roupas só veio do Brasil mês passado. E, juro, não senti falta alguma de variar no look do dia.

Amanhã é a Black Friday e o marido insistiu para eu fazer uma lista de última hora. Anotei um pijama de frio, um casaco de neve e algumas meias. Ele reclamou, disse que os preços estão ótimos e eu deveria aproveitar. Mas eu simplesmente não sinto necessidade de mais nada.

What you don't have, you don't need it now.

Das histórias de des-amor

Essa semana, entre leituras sobre o Tinder e desavenças amorosas-barra-finais felizes no blog da Analu e newsletter da Anna Vitória, me lembrei de uma história de desamor mais ou menos com internet, que me aconteceu há 6 anos, quando aplicativos de paquera ainda não estavam aí para dar uma forcinha.

O ano era 2010, época dourada de orkut e raríssimos casos de internet no celular. Eu caminhava para o ponto de ônibus, muito provavelmente no pior humor possível, já que, novidade, estava atrasada para o trabalho. Ele já estava lá, parado perto da escadaria, naquele ponto deserto, calça jeans levemente apertada e moletom hipster, barba por fazer – confesso, não sou fã -, e cara de tédio, já que, como mencionado acima, os tempos de rosto enfiado no celular 24-7 estavam apenas no comecinho. Parei no ponto, dei uma olhadinha, ele me ignorou, fiz a blasé, vida que segue.

Semanas passam, lá estou eu, atrasada para o trabalho novamente (talvez tenha sido uns 2 dias depois, dada a minha falta de pontualidade frequente), quando me deparo com o mesmo mocinho parado no ponto. Dessa vez me permiti reparar melhor no quanto lindinho ele era - leia-se encaradas pouco discretas- , e logo meu cérebro já estava maquinando como poderia encontrá-lo mais vezes, já que isso parecia acontecer quando, ao invés de 10 para as 8, eu saía às 8h30. Conclusão pouco óbvia: No dia seguinte, me atrasei de propósito. Só que, como meus planos nunca saem exatamente como eu quero, dessa vez acabei perdendo a linha, com o perdão do trocadilho; saí às 8h40 e ainda tive tempo de ver o ônibus subindo a rua, quando, ignorando toda a falta de sensualidade na cena, corri meia maratona e ainda tive tempo de ver o bonitinho mas ordinário subindo no busão, enquanto olhava para minha cara e poderia muito bem ter segurado o motorista mais uns segundinhos para mim.


O amor morreu por um mês talvez; sou dessas, que fica de mal de estranhos que sequer se dão conta da minha existência. Isso até que um dia, novamente atrasada, novamente dando de cara com o dito cujo no ponto, resolvi que ficar nos olhares com um guri que certamente não estava interessado e, ainda por cima, não segurava o ônibus para mim, só poderia ser cilada. O negócio é que, dessa vez, ele que não parava de me olhar. Assim, na caruda mesmo, de me fazer até checar se não tinha alguém acenando para ele atrás de mim. E tomamos o ônibus, descemos na estação, ele caminhando perto de mim, pegou o mesmo sentido do metrô e sentou no banco bem em frente. E nisso foram uns trinta minutos de olhadelas e sorrisos desajeitados, da Jabaquara à Luz, até que chegou minha vez de desembarcar.

Fiquei esperando a porta ao lado dele abrir, e ele encostou na minha mão. Perguntou se eu trabalhava na próxima estação, se morava perto do ponto, e eu, quase tremendo de nervoso, afinal nunca tinha flertadinho no metrô antes, retribui perguntando onde ele estudava (Anhembi Morumbi), e até qual estação iria. A porta do metrô abriu, tive de sair rápido e me dei conta que tinha esquecido de perguntar o nome dele. Esqueci simplesmente a parte mais importante da conversa. Tudo bem, dia seguinte o veria de novo e, claramente, já estava perdoado pelo incidente do ônibus.

Foram uns 5 dias saindo cedo, para não correr o risco de chegar atrasada demais da conta, e deixando ônibus após ônibus passar, enquanto esperava ele chegar no ponto. Lembrando hoje em dia, eu não consigo deixar de dar risada, porque jamais faria isso de novo por carinha bonitinho algum, afinal tenho mais o que fazer das minhas manhãs (leia-se dormir mais 5 minutos). Mas ser jovem é uma beleza, e eu esperei pacientemente a semana toda.

Chegando à conclusão que ele deveria estar de férias do estágio ou qualquer coisa assim, resolvi recorrer aos métodos modernos para me dar uma forcinha com o futuro pai dos meus filhos. Estava tudo muito romântico e paulistano até então, mas vivemos em pleno séc XXI e a tecnologia está aí para ser usada. A parte mágica da coisa foi que sabe-se lá por quê, eu coloquei na cabeça que o nome dele era Rodrigo. Ele tinha cara de Rodrigo. Eu sou dessas pessoas que acha que as pessoas têm cara de nome, e que, muitas vezes, sofre para aprender o nome certo. E lá fui eu; Orkut > Comunidades > “Anhembi Morumbi” > “Rodrigo” pesquisar.

Seria um final de tirar o fôlego dizer que o encontrei, que mandei inbox, que batemos certinho, namoramos e que só o destino para pregar uma peça dessas. Mas o fato é que, bem, o encontrei mesmo. E o nome dele era Rodrigo mesmo. Só que ele escrevia “contigo” separado ('estamos com tigo! s2'), “a gente” junto, e tinha como ídolo supremo o Elieser do BBB. Acabou o amor de vez. E passei a ir para o trabalho bem mais cedo todos os dias.


~ Tv e Filmes

Resolvi pegar para ver "How to Get Away With Murder" em um dia desses, de bloqueio criativo no Netflix. Resultado: estamos viciados, namorado e eu, e já sofrendo porque só a primeira temporada está disponível. Viola Davis é diva eterna.
Semana passada fomos ao Festival Sundance de Cinema em Park City e assistimos “The Lovers and the Despot”. O filme conta a história real de uma estrela do cinema e um diretor famoso na Coréia do Sul, raptados por Kim Jong-il e obrigados a fazer filmes para a Coréia do Norte. Acabei embarcando na vibe e aproveitei para assistir “The Propaganda Game”, no Netflix, que fala sobre o poder da propaganda do regime na Coréia do Norte. Para quem também ama documentários, fica a recomendação dos dois.

~ Leituras

Finalmente comecei a ler O Homem do Castelo Alto. Já estava na minha lista há meio século, mas depois de assistir o documentário sobre a II Guerra Mundial em cores no Netflix, achei que o assunto estava fresco na cabeça o suficiente para conseguir acompanhar as analogias do livro. Acontece que o namorado decidiu que queria ler também e resolvemos fazer esse Clube da Leitura de dois. Vou te dizer, é bem complicado ler em duplinha, já que eu tenho mais tempo livre e acabo tentando não avançar muito na frente dele. Por isso, nas horas vagas estou lendo “O Segredo de Jasper”, que ainda não me empolgou. Estou com medo de ter lido “O Sol é para todos” muito cedo esse ano e ter estragado todas as leituras seguintes, porque ninguém jamais vai ser como a Scout <3.

Prezada Kari,

Esse post faz parte de uma blogagem coletiva do Rotaroots. A ideia original de escrever uma carta para si mesmo 10 anos atrás é do Hypeness.
Eu sei, você não fala com estranhos. Aliás, você mal fala com não-estranhos se bem me lembro, mas eu te conheço, Kari, conheço o suficiente para saber que toda a roupa preta, a pose, o lápis de olho carregado e o cabelo escuro na altura da cintura são apenas uma proteção. Sei que finalmente entrou na USP, que está mais do que feliz por isso, mas que também sente muito medo. Sei que perde noites de sono projetando o que será de você daqui a alguns anos e, apesar da sua rebeldia natural em rejeitar conselhos até de você mesma, preciso te dizer o que levei muito para aprender: não perca tempo projetando. Entendo que estremece só de pensar em não atingir todos os seus objetivos, mas, Kari, seus sonhos ainda vão mudar tanto, que você mal vai ser capaz de contabilizar quais estarão satisfeitos ao final de uma década. A melhor parte? Isso pouco vai importar.

Você quer mais detalhes. Ok, como vou colocar isso? Bem, você provavelmente está nesse momento esperando o ônibus para a faculdade, sonhando em se formar logo e ir trabalhar em algum Banco ou coisa assim. Sabe, Kari, isso vai soar um tanto bombástico, mas posso te adiantar que o mundo corporativo não é para você. Eu sei, você acha uma lindeza todos aqueles prédios espelhados, a Berrini e a Faria Lima, uma explosão de saltos, crachás e camisas sociais, sei também que, nos seus momentos mais ambiciosos, sonha em chegar a uma diretoria e, segundo você mesma, "ganhar muito dinheiro". Mas, Kari, olha, não falta muito para você descobrir que as empresas pagam profissionais da sua área muito bem mesmo, mas certamente não tanto quanto seu tempo vale. Pois é, parece difícil de acreditar, mas logo logo você vai perceber que o tempo que você tem para você mesma, suas atividades favoritas e as pessoas que você ama são muito mais valiosos do que qualquer corporação no mundo está disposta a pagar. A parte mais incrível? Aos poucos você vai começar a se imaginar enfiada em uma roupa social o dia todo e não vai mais achar isso tão legal assim.


Calma, não se desespere, você não vai ficar "desasonhada"! Lembra do seu livro favorito quando criança? Do jogo que você mais amava (spoiler: AMA) jogar? Do, deus-que-me-perdoe-esse-seu-passado-negro-menina, cosplay que deu tanto trabalho para fazer? Pois é, quem diria, mas a sua infância é que vai te ajudar a descobrir de fato a profissão dos seus sonhos. E, olha, você vai batalhar muito por ela. Não fique brava comigo agora, mas eu ainda não saberia dizer se vai conseguir ou não. Só posso te adiantar que vai ser uma das coisas mais difíceis que você já fez, e que a senhorita já pode ficar bem orgulhosa, viu, poucas vezes a vi se dedicando tanto para algo. Não se preocupe em "desperdiçar" seu tempo estudando tanto; o seu diploma faz parte do caminho, provavelmente a parte mais importante, e você vai sentir um orgulho imenso quando finalmente o tiver nas mãos. Ah, você vai chorar. Assim como previu, vai se debulhar em lágrimas no dia que finalmente vestir aquela beca. Vai ser lindo e todos que você ama estarão lá com você. Ok, você ainda vai reclamar muito dos professores, das aulas em período integral, de perder feriados e finais de semana inteiros na faculdade, dos trabalhos de conclusão de curso (isso mesmo, no plural), mas, logo depois, vai sentir uma saudade imensa de toda aquela época, do Instituto, da salinha do CEA e de todas as pessoas que teve o prazer de conhecer.

Ah, Kari, você vai se decepcionar com tanta gente... Mas te garanto que, para cada uma delas, você vai conhecer ao menos umas três que valem a pena. Suas amizades vão mudar drasticamente, muitos "amigos" vão passar apenas para te ensinar uma ou outra lição e logo partir, mas preste bem atenção nos que ficarem. Aquela mocinha do Rio de Janeiro que gosta da mesma banda que você, aquele filho-da-melhor-amiga-da-sua-mãe que tem um videogame super legal, e também, juro, aquele outro que derrubou café em você "sem querer" (você vai jogar isso na cara dele por muitos anos) são pessoas para se guardar para sempre, pois vão passar alguns anos provando que estão lá para todos os momentos que você precisar. Ah! Não sinta mágoas pelos que forem embora, é assim mesmo, viu? Parafraseando um filme que você ainda nem sabe que adora; a vida aconteceu.


Sei que você acha que vai se casar e viver feliz para sempre com o menino que gosta, mas, acredite, isso também vai passar. Você finalmente vai deixar de confiar tanto nas pessoas, vai perder um pouco do otimismo desenfreado quando o assunto é relacionamento, mas olha, tudo bem ser mais cuidadosa, tá? Você vai ficar cada vez melhor em distinguir quais pessoas valem a pena e quais você deve responder com um adeus logo o primeiro oi. Isso também é amadurecer. Alguns caras vão te machucar para valer e você vai passar um longo período para se recuperar, porém, eu prometo, o rancor vai ficando para trás e você vai acabar desejando que todos sejam muito felizes. De preferência bem longe de você.

Não seja tão dura com a sua vó e sua mãe. Elas podem não ter ideia do que estão fazendo muitas vezes, mas sempre (guarde isso: sempre) querem o seu bem. Correndo o risco de parecer bem clichê por aqui; não há amor maior que o da sua mãe e você só vai aprender isso bem mais tarde. Na sua idade é comum acharmos que tudo vai mudar em 10 anos, mas muita coisa ainda vai continuar a mesma. E, querida, isso vai ser tão bom. Sua casa ainda vai ser o lugar mais aconchegante, a comida da sua vó a mais saborosa, passar uma tarde chuvosa debaixo das cobertas lendo algum livro emocionante ainda vai ser seu passatempo favorito.

Algumas coisas vão mudar sim, muitas para melhor e outras para pior. Você não faz ideia ainda, mas vai enfrentar batalhas muito mais árduas do que as que já enfrentou. Não se assuste, Kari, você é corajosa. Pode ser que não vença todas, mas vai saber se levantar todas as vezes e tentar de novo. Vai lá, corre, pega aquele seu diário que você escreve sempre, anota uma frase e pensa nela todos os dias, até chegarmos onde chegamos e deixa que eu carrego ela daqui para frente: se fosse fácil, Kari querida, não seria para você.

Retomada

Meu primeiro impulso foi o de deletar esse domínio. Por n razões, ele lembrava minha "vida antiga" e isso não parecia certo para mim. Eu não sou mais a mesma que criou esse blog, eu não reconheço mais aquela pessoa. Tudo mudou na minha vida; as pessoas, os lugares, as coisas, aqui dentro. Pensei em talvez criar outro domínio, com outro layout, em outro servidor, ou, não sei, deixar essa coisa de blog para lá. De uma vez por todas. Na verdade, essa última solução era a que mais me seduzia naquela hora. No entanto, era preciso entrar aqui, visitá-lo pela última vez, mesmo que simplesmente para deletar tudo. Foi aí que vi a imagem de topo, lembrei do dia que recomeçar um blog parecia uma ideia incrível e que eu precisava de um nome para ele. Esse, "Não Ficção", veio logo de cara. Não precisei ficar pensando por dias, nem sequer anotar ideias numa listinha para decidir pelo mais apropriado. "Não Ficção" tinha tudo a ver, mostrava meu amor por livros talvez, mas, acima de tudo, dizia que essa era minha história, cheia de acontecimentos absurdos e complicados e, ao mesmo tempo, sem qualquer de extraordinário.

Pensei também em como a vida tem se mostrado para mim e em como eu não posso apagá-la toda vez que algo "não parecer certo", para poder começar tudo do zero absoluto. Lembrei de tudo que passei, dos aprendizados, dos machucados e da força que veio depois de tudo. Resolvi encarar esse blog de frente. Tudo bem, deletei os posts que me machucavam, apaguei imagens, mudei frases. O bom é que tinha usado tão pouco essas linhas, que nem me deu tanto trabalho. Doeu. Mas é isso; viver dói mesmo.


Lembrei também que o que mais me incentivou a criar esse blog, em primeiro lugar, foi encontrar tantos blogs old school por aí. Não aqueles de perfeições, maquiagens e cabelos impecáveis, roupas deslumbrantes e publiposts, mas aqueles de meninas que existem de verdade. Que sofrem, que adoecem, que sonham e que tentam, mesmo num mundo como esse, encontrar beleza nas coisas simples da vida. Percebi o quanto isso lembra minha vida agora. No quanto de ambição, angustia e desespero eu perdi para dar lugar à tranquilidade, aos amigos e a mim.

Foram lições e mais lições pelo caminho. Algumas assimiladas facilmente, outras foi preciso me esfregar na fuça até que eu pudesse me tocar. E, apesar dos pesares, estou satisfeita pelo caminho que trilhei e onde cheguei agora. De todas as coisas, acho que aprendi melhor a separar o joio do trigo, me tornei uma pessoa mais desconfiada e menos deslumbrada, o que à primeira vista pode soar algo terrível, mas no fim só me deixou mais forte. E mais feliz. Aprendi a aproveitar melhor aqueles que eu amo, a seguir meus sonhos com mais determinação, sem desculpas ou preguiça. E a enfrentar meus medos com mais coragem. Como voltar aqui, reler alguns textos que sequer faziam sentido mais, excluí-los, deixar para trás. E recomeçar dos destroços, dos projetos inacabados e das partes de mim que fizeram mais falta.

Dos antílopes

Acho que foi em uma aula de francês, há muito tempo, que eu a ouvi de fato. De fato, pois já havia escutado na rádio, na trilha de algum seriado ou filme, sem prestar muita atenção. Lembro da atividade, que era aquela nada clichê/mais que obrigatória em qualquer curso de idiomas, de preencher as lacunas com palavras da letra, para treinar os conhecimentos de listening. A melodia era triste e, ao mesmo tempo, esperançosa, e me fez voltar pra casa arranhando algum francês cantado.

Resolvi ouvir o álbum completo e conhecer um pouco mais daquela voz rouca e sussurrada. Só para treinar a língua, eu disse, mas acho que me identifiquei logo de cara. Eram canções maduras, infantis, melancólicas e radiantes, tudo ao mesmo tempo. Todas cantadas por uma mulher experiente e por uma menina que mal começou a viver ainda. As letras falavam, na maior parte, desse sentimento contraditório, ora devastador, ora tranquilo, e de experiências passadas, arrependimentos e desejos.


Eu teria muito o que dizer de cada uma das músicas dela, de como cada uma reflete as minhas próprias percepções, e da poesia, ah, a poesia, a qual essa modelo domina tão bem, e que eu, preconceituosa como sou, jamais imaginaria possível. Mas escolhi essa, que é a minha música feliz. É a que eu escuto no fim daqueles dias cansativos e desolados.
Confesso que foi uma das que menos gostei de início; tanto o título, quanto a melodia me soavam infantis, rasos e inofensivos demais. Até o  momento que parei para desenlaçar o que estava por trás das comparações bobinhas com animais. Animais que não se importam com o que se foi, o passado perturbador, ou com o amanhã, o futuro desconcertante. Para os quais o instante é a única escolha e representa a ansiedade, de devorar até as menores migalhas desse vazio que é a existência, e a serenidade de aceitar a morte sem frescuras. Da frase que é repetida tantas vezes; sou a mesma, a mesma do presente, do tempo enlaçado ao êxtase, tudo nessa canção me inspira a viver no presente, sem ponderações, como os elefantes, as panteras e os antílopes.

Sobre livros e filmes

Eu tinha 15 anos. Lembro que o livro estava lá, jogado em cima do material escolar da Carol, minha vizinha e melhor amiga de infância. A arte da capa foi o que me chamou a atenção, era bonita e simples, em tons de dourado e lilás. Provavelmente mais um livro infantil, e eu, que já estava bem além dessa fase, definitivamente não cogitaria perder tempo com mais histórias sobre crianças e seus mundos mágicos bobinhos.

Só que o livro em questão tinha muitas páginas. Nada que eu não estivesse já bem acostumada, mas assim, para um livro infantil era realmente uma história longa. Abri, nenhuma figura. Resolvi ler o primeiro capítulo. E então não teve mais volta.

Imaginei tudo; criaturas, trem, castelo, esporte e personagens. Eles habitavam meus pensamentos o tempo todo e tive sorte de ainda estar em idade escolar, assim, apesar das diferenças óbvias, pude vivenciar tudo aquilo com um pouco mais de intensidade. Não havia um filme em produção ainda. O que se tinha eram três livros fantásticos, sobre uma das histórias mais viciantes que eu já havia lido até então.

Lembro de uma revista Época especial de final de ano que minha mãe trouxe. Nas últimas páginas, uma perspectiva do ano que estava por vir (2001), mês a mês. Em dezembro, uma foto dos três atores escolhidos, para a qual fiquei olhando por horas. Não eram exatamente meus personagens e eu nem sabia se me habituaria àqueles rostos, mas, para ser sincera, o que mais me incomodava era pensar "DEZEMBRO? Falta um ano inteiro ainda! Não vai chegar nunca!!!"


No fim, me habituei. Gostei de todos os filmes (alguns bem mais) e agradeci a ajuda visual, já que algumas coisas, como as escadas que moviam, por exemplo, eram realmente difíceis de se imaginar. Mas nunca li um único livro da série com aqueles rostos. Nunca esqueci os que eu mesma criei e foram eles que me acompanharam e concluíram a história na minha cabeça, até o sétimo e último livro.

Há dois anos li uma resenha sobre Jogos Vorazes em algum lugar da Internet e a ideia pareceu genial. Uma cidade soberana, com 12 distritos escravizados ao redor, e um jogo de sobrevivência, no qual 2 crianças de cada distrito são inseridas para batalhar até morrer, em prol do entretenimento dos cidadãos da Capital. Gosto de mundos apocalípticos e, ao ler o primeiro capítulo (eu sempre faço isso antes de realmente assumir uma leitura! rs), a narrativa parecia rápida, bem construída e levemente viciante. Li os três livros de uma vez só. Os dois últimos em inglês mesmo, já que não aguentava esperar pelas edições brasileiras. Por causa disso, geralmente me confundo onde começa e termina cada um deles e sempre imagino a sequência como uma história só.

Dessa vez, a perspectiva de um filme ainda era remota e eu pude acompanhar a escolha do diretor, atores e produção desde o comecinho (sem ter de depender de fotos minúsculas na Época. Obrigada, internet! :*). E, assim como da outra vez, Jennifer Lawrence não é minha Katniss, muito menos Josh Hutcherson meu Peeta, mas nem por isso estou menos animada para assistir o filme que sai essa semana (depois de uma longa espera de dois anos, de novo).


Na verdade, ganhar ingressos para a pré-estreia foi uma das notícias mais legais e, por mais infantil e bobinho que isso possa soar, me ocorreu todo esse revival do que senti aos 16 anos, quando vi Harry Potter virar filme e se tornar mais "real" bem na minha frente.

Essa semana dediquei a reler o primeiro da série para poder comparar todas as cenas e analisar melhor a adaptação cinematográfica. E, onze anos depois de ter tido essa sensação pela primeira vez, mal posso esperar para assistir nas telas a história que li em páginas.