Você já leu a sinopse de um livro e ele parecia tudo o que você precisava naquele momento?
Foi o que senti quando descobri o The Midnight Library na lista de melhor ficção do Goodreads Choice Awards 2020. Veja bem, eu tento fugir de leituras em inglês o máximo possível (parece que não consigo imergir na história da mesma forma), mas a premissa me encantou tanto, que eu não queria esperar pela tradução para saber mais sobre a tal biblioteca mágica.
Ao "entrar" nesses livros, ela é capaz de viver cada uma dessas opções, desfazendo arrependimentos antigos, e até escolhendo uma vida que ela prefira mais que as outras. Ela poderá continuar experimentando cada um desses livros, enquanto ainda mantiver sua vontade de existir.
Com uma sinopse dessas, já é de se esperar que o arrependimento seja o tema central da história de Nora. Ao mergulhar nos primeiros capítulos, é impossível não imaginar como seria nossa biblioteca, quais narrativas encontraríamos e quais escolhas gostaríamos de refazer. O livro bate muito na tecla de nossas decisões erradas serem baseadas em meras suposições, ou seja, jamais saberemos se uma escolha diferente teria saído de fato melhor (ou pior). Para mim, essa ideia foi o grande ponto positivo da história, mas, infelizmente, foi o único.
Nós precisarmos ser apenas uma única pessoa. Nós precisamos sentir apenas uma única existência. Nós não precisamos fazer tudo para sermos tudo, porque já somos infinitos. Enquanto estivermos vivos, sempre teremos um futuro de inúmeras possibilidades.
Confesso que, em determinado momento, eu já estava um tanto cansada das vidas de Nora. Por mais que as profissões, residências e até interesses românticos mudassem, as histórias acabavam ficando bem repetitivas. Não é possível se apegar aos diferentes cenários, porque eles são explorados de forma bem superficial, e, lá pela terceira tentativa, já entendemos há muito onde o autor quer chegar.
Talvez eu tenha elevado demais minhas expectativas por causa do prêmio do Goodreads, mas achei também que o livro pouco acrescentou ao debate sobre saúde mental e suicídio. Não foram poucas as vezes que tive a impressão de estar lendo uma obra de auto-ajuda, travestida de ficção apenas para dar a liga em frases de efeito motivacionais.
Eu resumiria a moral do livro por aquela máxima de que, ao apagarmos nossos erros, apagamos também nossos acertos, pois não seremos mais quem nos tornamos. E, apesar de ser uma lição válida, senti que o livro a expôs de forma exageradamente didática e previsível, beirando quase o infantil.
Eu queria muito ter gostado desse livro. De verdade. Porém, por mais que a ideia da biblioteca fosse interessante, a execução deixou a desejar. Não apenas os ensinamentos de Nora se tornam mais e mais clichês a cada nova vida, mas o livro também não faz jus aos assuntos delicados que se propõe a abordar.
No mais, se você se interessa pela ideia de reviver arrependimentos passados, queria deixar uma recomendação de uma das minhas séries favoritas da vida, Being Erica. Na série, Erica também tem a chance de refazer escolhas passadas por poderes mágicos (não em uma biblioteca, mas na terapia, olha que acessível), porém os aprendizados, e até mesmo as frases de efeito, são apresentados de forma bem menos óbvia ou negligente.
Ps: Terminei a leitura de The Midnight Library em Junho/21.
A tradução foi lançada pela Editora Bertrand em Setembro/21 e pode ser encontrada aqui.
Poxa vida. A sinopse parecia tão interessante, principalmente pra mim que gosto dessa temática de livros de ficção abordando assuntos da mente... mas pela forma como você relatou me parece mesmo coisa de livro de auto ajuda. Uma pena.
ResponderExcluirPorém eu adorei a forma como você escreveu a resenha. Você pode fazer isso mais vezes!
Um beijo
oi, Kari! quando vi que você colocou ali que me lê, fiquei esperando um pretexto pra vir falar haha, é a primeira vez que comento aqui!
ResponderExcluiruma pena que a sua leitura não tenha sido tão legal. já tinha visto outras pessoas falarem sobre esse tal disfarce para auto-ajuda. não li o livro, mas tenho curiosidade, só não no momento que tá bem no hype haha. não conhecia Being Erica, literalmente não sabia que existia haha parece legal.
beijoo
Eu me sinto exatamente como você ao ler livros em inglês Kari! Parece que a história fica distante e não conseguimos "sentir" a vibe rs
ResponderExcluirPuxa é uma pena que não tenha sido bom. Mas eu achei a capa muito linda! E a sua composição pra foto ficou perfeita. Super convidativa!
Vou dar uma olhada nessa série. Estou procurando uma pra acompanhar hehe
Bom final de Janeiro pra você ♥
Eu comecei a ler e já havia me interessado pelo livro, gosto dessas coisas que envolvem magia e contam historias que te prendem mas, ai voce disse que começa a ficar repetitivo e me desanimou. A intenção do escritor foi boa pelo que puder ver em sua resenha, mas essa questao de virar um auto ajuda acaba sendo chato mesmo. Vou procurar a serie para ver, talvez eu goste tambem!
ResponderExcluirAi, que chato Kari, a premissa parecia ser tão promissora... Engraçado que a história me lembrou um pouco o livro '4 3 2 1' do Paul Auster, que também conta a trajetória de um mesmo personagem em 4 realidades diferentes. Sabe que eu também fiquei um pouco decepcionada com esse livro? Vou linkar a minha mini-resenha dele aqui, caso você tenha curiosidade de ler: https://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-24/
ResponderExcluirBeijo!
Olá amiga! Não conheço o livro mas se fosse pela sinopse eu comprava! bem gostos, são gostos não é mesmo?? :)
ResponderExcluirGostei muito do blog e já o segui! Quero convidá-lo a visitar e a seguir o meu blog de volta <3
www.pimentamaisdoce.blogspot.com
Oii, é uma pena que o livro não foi como você pensou. Eu gostaria muito de ler, mas a sua resenha me fez refletir se vale a pena mesmo ler.
ResponderExcluirbjs
https://deliriosdeumaliteraria.blogspot.com/?m=1
retornando aqui no seu blog depois de tanto tempo, e é sempre um ótimo reencontro 🖤
ResponderExcluireu simplesmente AMEI tudo que você escreveu sobre esse livro porque me identifiquei demais com suas percepções sobre a história. eu também fiquei muito animada quando li a sinopse desse livro! tava ansiosíssima pra ele ser lançado aqui no br, acabei comprando a edição da tag (isso que nem sou assinante) e quando fiz a leitura fiquei assim............... meh.
a impressão que tive foi que o autor não soube trabalhar muito bem a ficção da história. eu marquei muitos trechos, mas no final eles poderiam ter sido tirado de qualquer livro de auto-ajuda, porque não me senti envolvida com a nora em nenhum momento (mesmo me identificando com sua história em vários pontos, o que é bizarro). inclusive eu já li um livro de não ficção desse mesmo autor e ele também não me pegou tanto.
mas enfim, né? faz parte.
beijo!
K.
Comecei a ler o livro e imediatamente pensei em Being Erica - única série que assisti a mais de uma vez! Achei a sinopse quase plágio e busquei algo no Google... só achei sua resenha. Estou no começo do livro, que comprei pensando em uma leitura rápida e despretensiosa, e espero concluí-lo mesmo não sendo tão interessante. Sua resenha é ótima!
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