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Da decisão acadêmica

Estou aqui, sentada com o note no colo, encarando o cursor piscando na tela há horas, me sentindo incapaz de redigir qualquer resposta às faculdades. Não consigo evitar de sentir um gosto amargo enquanto junto palavras para justificar minhas recusas. Não apenas por ter sido incrivelmente bem tratada nas visitas que fiz durante o mês de Abril, mas também pelas oportunidades que me sinto deixando para trás.

É claro que boa parte dessa minha ansiedade se justifica pelo fato de que essa não é apenas uma escolha desleixada chocolate/baunilha, mas sim um presságio, um enorme golpe de sorte para onde posso direcionar minha vida. Quero dizer, eu até me considero uma pessoa pragmática e metódica quando se trata de assuntos acadêmicos, porém, mesmo tendo ponderado todos os cenários, mesmo depois da listinha pro/con Rory Gilmore, acabei por finalmente me conformar do óbvio; não é possível ter certeza do futuro. Não posso, e jamais poderei, confirmar qual seria a decisão mais acertada, mesmo porque não tenho outras realidades paralelas para testar. Sylvia Plath me entenderia.

lista pro/con no bujo

Se eu pudesse, eu reviveria Abril over and over again. Foi um privilégio poder viajar fazendo tours pelas faculdades, cada uma com suas instalações e equipes incríveis. Ter meu currículo elogiado por acadêmicos com trajetórias profissionais que eu jamais sonharia em conhecer. Visitar cidades tão diferentes, do norte frio e provinciano ao sul quente e florido. Sei que cada um dos professores que conheci, cada arquitetura única, cada laboratório com equipamentos de última geração ficarão guardados na minha memória para sempre. Porque foram as instituições que me aceitaram, que me acolheram, que me julgaram digna dos seus cursos.

Syracuse, NY
No entanto, nesse momento, uma delas se destaca afinal.

A Universidade de Utah foi fundada em 1850, pelo mesmo fundador da capital do estado, Brigham Young. É uma Universidade pública  (o que, infelizmente, nos EUA não significa "de graça") com aproximadamente 30 mil alunos. Fica localizada nas montanhas, e sua arquitetura foi toda reformada, o que ainda estou tentando me acostumar, já que sempre imaginei as universidades americanas com aqueles prédios britânicos antigos característicos na costa leste.
fonte da imagem





Com todas as opções de paisagens ao redor - lagos, montanhas, florestas, deserto -, um dos maiores atrativos para os estudantes é definitivamente a inúmera quantidade de atividades outdoors que Utah oferece (snowboard, escalada, trilhas, biking, etc). Além disso, a faculdade ainda conta com um grande diretório de clubes para os alunos (desde capoeira a League of Legends) e é possível usar o ginásio do campus para outras práticas esportivas, como academia, yoga, natação ou aulas de golfe. Com esse apelo mais "aventura", reconheço que a universidade não pareceu muito atraente para quem se interessa mais pela agitação da vida noturna, barzinhos & adjacentes, o que, para ser sincera, nunca foi meu caso.

A Biblioteca Marriott conta com mais de 3 milhões de exemplares

Juro que achei que tinha um aluno escalando o prédio, mas era só um boneco de incentivo aos graduandos xD


As montanhas cercam todo o lado leste do campus

Estádio Rice-Eccles, onde ocorrem os jogos universitários de futebol americano

O estágio também foi palco da abertura e encerramento dos jogos olímpicos de 2002
No mestrado para o qual apliquei, as aulas são todas à noite e não há férias (ai :/), o que significa que é possível terminá-lo em 1 ano. Algumas matérias são especificamente focadas no mercado de trabalho, nas quais você trabalha diretamente com consultoria para empresas reais. Aliás, o departamento ainda disponibiliza um conselheiro de carreira, para que você possa fazer tours pelas companhias locais, participar de feiras de empregos e ser posicionado no cargo que mais combinar com suas habilidades. Os conselheiros chegam a fazer até entrevistas de mentirinha para treinar, o que, confesso, me soou meio engraçado.

O prédio onde irei estudar






Enquanto junto as fotos para o post, pulo para lá e para cá nas abas do navegador. A cada foto, adiciono também um novo parágrafo em cada email. Tento me aquietar com a decisão tomada e penso no quanto sou eternamente grata pelos figos suculentos e macios que me ofereceram. Não posso deixar que todos eles murchem e apodreçam aos meus pés. Termino as respostas. Conto até dez e envio.

E assim começa uma nova jornada, que floresce em novos galhos na minha figueira.
Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história.
Na ponta de cada galho, como um figo gordo e roxo, um futuro maravilhoso acenava e piscava. (...) Eu não conseguia prosseguir. Encontrei-me sentada na forquilha da figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia optar entre um dos figos. Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés."
Sylvia Plath - A Redoma de Vidro 

Um ovo, dois ovos, três ovos assim

Correndo o risco de parecer a diferentona, devo confessar que chocolate não é exatamente meu doce favorito. Quero dizer, bolo de chocolate ok, leite com nescau também. Agora, chocolate por chocolate, a barra mesmo, nunca me apeteceu. Por essa razão, desde que mudei para os EUA, não me importei muito de substituir a minha tradição de Páscoa, a consagrada "troca de ovos de chocolate", pela tradição local, a egg hunt.

egg hunt consiste em decorar ovos cozidos (sim, os de galinha mesmo) com tinta, glitter, cola, adesivos e qualquer outra coisinha que insista em penetrar em cada fibra do meu carpete. Depois, a ideia é escondê-los em alguma área aberta e chamar as crianças para "caçá-los" na manhã de Páscoa.

arsenal de Páscoa



Aqui em casa não temos crianças, mas dois adultos extremamente apegados a tradições. Sendo assim, escolhemos comemorar a Páscoa com a nossa própria egg hunt competitiva, de regra simples e clara: cada um esconde seus ovinhos e, quem achar os do outro primeiro, ganha.

Não posso deixar de destacar que, como esse ano não estaremos em casa no domingo, a cena de dois adultos carregando cestinhas, procurando ovos coloridos no parque em um dia de semana qualquer foi um tanto quanto chocante para os transeuntes. Precisamos repetir ano que vem.




Em tempo, apesar de não terem os ovos como no Brasil, os mercados daqui vendem vários "doces de Páscoa", o que inclui também chocolate (alguns até em formato de ovos, mas bem pequenos), e muito marshmallow. Os meus favoritos (e mais comuns nessa época) são os Peeps, um marshmallow com açúcar que lembra muito aquele sorvetinho de maria mole, que vinha com uma bexiga grudada e que você provavelmente só vai conhecer se também cresceu com doces baratinhos dos anos 80.

peebs ♥. fonte
E você? Como comemora a sua Páscoa?

Esse post faz parte da blogagem coletiva "Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?" da Café com Blog. Não deixe de conferir os outros posts de Abril:

Ainda não é a cartinha de Hogwarts, mas.

Março foi um mês bom e ruim. Ruim, porque passei boa parte do mês cabisbaixa ao ver um total de zero dos meus esforços rendendo resultados. Bom, porque, em face da estagnação, acabei por seguir a maior filosofia que a humanidade respeita: Hakuna Matata.

Só que eu não fugi para uma savana na África, mas sim para o Hawaii, que, convenhamos, é quase tão lindo e ensolarado quanto. Não que seja um costume me esconder das preocupações (ainda mais para me concentrar em sol, mar, hula e dedinhos na areia). Só que eu cheguei ao meu limite de ansiedade quando meu cérebro, na sua melhor atuação de sabotador da vida, finalmente me convenceu que toda aquela demora só poderia culminar em uma cartinha oficial de rejeição.

dos seus problemas, você deve esquecer
Uma coisa que eu sempre tive em mente, desde que cheguei no hemisfério norte, é que 1, eu não queria ser uma stay-at-home-mom (nem mesmo na versão child-free). E, 2, eu queria ser capaz de aplicar para bons empregos e competir por eles de igual para igual com os nativos, sem jamais me sentir inferior ou subjugada por ser de outra nacionalidade.

Eu sei que existem muitas outras alternativas, ainda mais na América. Só que eu cresci muito com essa resposta "acadêmica" enraizada, para qualquer questão do universo e tudo mais. Estudar é o meu tipo de atividade, o que me sinto bem fazendo, e, há quem diga, meu espaço seguro. No mais, a ideia do Mestrado já não era tão distante assim. Antes eu estava me preparando para fazê-lo no Brasil mesmo, e agora, parecia não haver qualquer motivo para deixar de seguir com o plano.

Na última sexta-feira chuvosa, acordei um pouquinho tarde para os meus parâmetros. Eu sou insone, veja bem, e dormir mais de 5h por dia sempre foi uma grande conquista. Só até aí, o dia já parecia bom demais para ser verdade e eu não me daria ao luxo de esperar nada além disso.

Levantei e, enquanto aguardava o susto habitual com a torradeira, fui xeretar meu e-mail. Esse foi um costume que não consegui perder no Hawaii; checar meu email de hora em hora ainda era minha dose homeopática de fracasso diário. Só que, finalmente, naquela sexta-feira tudo mudou. Era o fim da espera, o título me encarava: "MS decision".

Como que para testar minha situação cardíaca, além das minhas habilidades com o gerenciador de arquivos no celular, a decisão seguia anexa em um pdf. Pouco ansiosa, sai clicando em tudo, troquei de tela, sumi com o arquivo e, depois de quase jogar o aparelho janela afora, sem qualquer glamour das cartinhas que vemos nos filmes, foi possível ler: Admissions Packet 2017.


Naquele mesmo dia à noite, recebi o e-mail de aceitação da segunda universidade. Não teve o mesmo impacto da primeira, é verdade, mas teve um baque de realidade ainda maior. Como eu sou um serumaninho padrão e nada-nunca-está-bom, acabei por entrar na famigerada fase do medo e incertezas. Para onde devo ir? Praia ou montanha? Leste ou oeste? Centro ou Norte? Largar tudo e vender brigadeiro? Não há listas de pro/con suficientes para dar conta.

Harry Potter como guardião das admission letters
Como eu ainda não me decidi, esse post vai terminar assim mesmo, no pior cliffhanger desde qualquer episódio de The Walking Dead (que temporadazinha ruim, aliás).
Ficaremos no aguardo das cenas dos próximos capítulos.