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Do mínimo ao ideal

Tive meu primeiro contato com o Minimalismo assistindo a uma palestra no TEDtalk, lá para o finalzinho de 2013. Muita coisa mudou em mim naquele ano (mais ou menos resumido nesse post), e uma delas foi começar a prestar mais atenção na minha convivência com os objetos amontoados em casa.

Até então, eu ainda fazia parte daquele mundo mágico onde abarrotar o armário de fast fashion e maquiagens nunca usadas definiam a fórmula da felicidade. No entanto, apesar de alguns objetos de fato me trazerem alegria, estava claro que eu mantinha a maioria (especialmente aqueles adquiridos na febre pós primeiro emprego meu-deus-agora-eu-tenho-um-salário-e-posso-gastar-vários-dinheiros!!11!!) apenas por uma ilusão de realização pessoal.

Foi no processo chamado decluthering (ou destralhamento) que eu encontrei uma forma de reduzir dolorosamente boa parte das minhas tralhas. Claro que a mudança de casa – e o encolhimento significativo do meu quarto – criou uma obrigação real de desapego, porém, naquele verão de 2014, eu pude finalmente entender o quanto acumular objetos já não me completava, sequer indicava o que eu havia conquistado na vida até então.

Dia desses, assistindo ao documentário dos Minimalistas no Netflix, me peguei refletindo sobre o que a filosofia representou na minha vida nesses últimos três anos. Achei que seria até justo eu dizer que "abandonei" o minimalismo, mas, na verdade, ele tem consequências diretas na minha vida até hoje. Seja dando uma volta no shopping ou faxinando a casa, toda aquela ideia da praticidade, do essencial e do acúmulo consciente ficou internalizada em mim, e acabou virando hábito, assim, sem eu precisar me policiar para isso. No fim, acredito que o que eu larguei mesmo foi aquele Minimalismo idealizado e caga-regra, que a internet insiste em se focar.

Tudo bem, mesmo lá no começo eu nunca consegui aderir à maioria dos projetos relacionados ao Minimalismo. Boa parte deles – Projeto 333, armário cápsula100 things challenge, etc – envolvem receitinhas quantitativas que, para mim, jamais funcionariam (e olha que sou de Exatas!). Fazer inventário de roupas, impor limite numérico para compras, se esforçar para espremer toda a sua vida numa mochila, tudo isso pode até ajudar com a disciplina, mas, por fim, acabam mesmo me causando mais ansiedade que satisfação.

Toda a maquiagem que possuo hoje em dia. Existe algum projetinho com o número cabalístico 10?
Além disso, existe uma visão romantizada que coloca o minimalista como aquele que vai pedir demissão do trabalho e sair mochilando pelo mundo, muitas vezes sem um centavo no bolso. Reconheço que pode até render os melhores blogs, mas acho plausível afirmar que nem todo mundo seria feliz na experiência. Contrariando Elle Lune, em Eu sou as Escolhas que faço, o caminho da segurança nem sempre é apenas o caminho que os outros querem para você. Eu gosto de segurança. Eu preciso de segurança. Almejar um trabalho fixo, dinheiro para viagens com passagens de volta, poder cuidar dos pais quando eles envelhecerem, nada disso é condenável. Somos todos pequenos experimentos da pirâmide de Maslow e, só porque decidi viver com o meu menos, não significa que tenha de me forçar a viver com o mínimo alheio.

Aliás, essa imposição do desapego desenfreado, onde todo e qualquer objeto espalhado pela casa passa a ser visto como inimigo, acaba sendo tão pouco produtiva quando a própria obsessão pelo consumo. Por exemplo, Emilie Wapnick explica que algumas pessoas simplesmente não possuem uma vocação. E esse tipo de indivíduo – eu, oi – acaba por pular de um hobbie a outro, voltando às origens ou criando novos, de acordo com seu processo criativo individual. Coisa de amar estudar música por anos, largar de repente para se dedicar à fotografia, para, dali a uns meses, encostar a câmera enquanto volta para a guitarra. Por essa razão, desapegar de todo e qualquer objeto que esteja "ocupando espaço" na casa não necessariamente é a resposta para todo mundo. Nem sempre esses objetos sem uso no momento estão em excesso; eles podem ser, na verdade, ferramentas que possibilitam exercer paixões esporádicas. E tudo bem não se livrar deles.

É claro que o Minimalismo pode ser encaixado em todas essas situações sem deixar de ser, bem, Minimalismo. Como quase toda ideia jogada na internet; o conceito é genial, o fandom é que estraga. Ao contrário do que muita gente passou a pregar por aí, ele não é, ou não deveria ser, uma seita carregada de mandamentos sobre como manter um guarda-roupa com 47 ½ peças em preto e branco. E eu nem acredito que ele tenha sido pensado inicialmente dessa forma, muito menos é o que os Minimalistas pregam. Só que, infelizmente, a polícia da vida alheia chega ao ponto de fazer com que praticantes evitem o assunto, para não aterrá-lo em exigências extremistas.

O que eu aprendi com o Minimalismo afinal?

Dado que não posso (e não tenho qualquer ambição em) ter tudo, o Minimalismo me ensinou a priorizar o que é de fato importante para a minha vida. Veja bem, prioridades, não privações. Eu mencionei o quanto foi doloroso passar pelo destralhe inicial e, hoje em dia, eu percebo que não precisaria ser. A ideia não é se focar no quanto você possui, mas sim por que você possui. Não há nada de errado em manter sua coleção de livros ou cartas antigas, que te trazem uma sensação de conforto quando relidos. Manter lembranças e outros objetos significativos não vai te fazer menos minimalista que o cara que visitou 60 países com todos os seus bens em uma mochila. A ideia vai muito além disso. Nas palavras de Joshua Millburn: “ame pessoas e use objetos, porque o contrário nunca funciona”.

Ao longo desses três anos, fui jogando fora as receitinhas de internet e me concentrei em viver melhor, com cada vez menos apego material. Aliás, acho que essa liberdade foi a melhor coisa que o Minimalismo me trouxe; aprendi a viver com mais equilíbrio e menos restrições. Isso significou não só uma economia financeira, como acabei apreciando mais bem cada objeto que eu possuo (sem excessos, consigo usá-los muito mais vezes). Obviamente eu não deixei de querer coisas, mas passei a questionar muito mais a utilidade antes de comprá-las.

Por que eu mantinha mais de 30 esmaltes, já que sempre acabava escolhendo o preto, o vermelho ou o azul?
Hoje eu enxergo o Minimalismo como uma forma de não deixar que os bens materiais orientem minha vida, ou preencham algum vazio que deveria ser trabalhado em sentimentos, experiências, pessoas ou relações não substituíveis. E saber atribuir a cada bem material o valor que ele possui nada tem a ver com vestir-se em preto e branco, ou contar quantos batons você tem. Na verdade, é uma ferramenta para preencher seu espaço com o essencial e suas possibilidades, estimulando ainda mais sua veia criativa. Possibilidades, aliás, que dificilmente caberiam em apenas uma mochila.

Black Friday wishlist

É fato que a gente passa por várias mudanças bruscas irreversíveis durante toda a vida. Algumas universalmente reconhecidas; puberdade, passar na faculdade, pagar a primeira conta, etc, e outras que dizem respeito apenas a nós mesmos.

Assim como todo mundo que já passou ao menos da pré adolescência, também sofri alguns desses wake up calls da vida, sendo um dos maiores quando descobri que estava doente lá pelo finalzinho de 2013.

Porque não foi só o meu corpo que, de nunca-pego-nem-gripe, passou a precisar de visitas intermináveis a hospitais, tratamentos, exames incômodos e remédios hardcore. Também não foi só o namoro que acabou, com o ex fugindo para as colinas por não estar pronto para lidar com ~gente doente~. Todo o resto em mim mudou. A forma como eu via as pessoas ao meu redor, como eu buscava meus objetivos, como eu definia minhas prioridades, e até pequenices, como meu jeito de usar a internet e a decoração do meu quarto.

Lembro que foi bem nessa época que eu assisti a essa palestra no TED, e comecei a pesquisar um pouco mais sobre Minimalismo e outras "técnicas para se viver melhor" (nome meio piegas-auto-ajuda, eu sei). É nessa minha pastinha mental que eu misturo os low poos, a hortinha caseira, o espiritismo, o pensar duas vezes antes de escrever qualquer coisa, em qualquer lugar.


Em relação ao consumismo, confesso que nunca fui de gastar o que eu não tinha (minha mão de vaquice é mais forte que eu), mas eu fazia questão de ter um guarda roupas sempre abarrotado, incontáveis produtos de maquiagem os quais eu não usava nem a metade, além de sentir uma necessidade vital de sempre comprar alguma peça da coleção nova do Fulano by C&A (eu era consumista, não rica). Essa questão das roupas se tornou um vício incontrolável, a ponto de eu me sentir incompleta e depressiva quando não dava tempo de comprar algo novo na semana.

Mas, claro, tudo isso passou quando eu fiquei doente, porque né. Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar. De repente estar bem e cuidar da saúde era mais crucial que comprar aquela bolsa nova que ~toda blogueira está usando~. É pesado dizer isso, mas hoje em dia eu tenho a completa noção de como essa época me salvou da pessoa ridícula e mesquinha que eu estava me tornando.

Não que eu tenha me tornado um ser iluminado (apesar de ter me casado com um). Bem longe disso. Não me considero sequer minimalista, só uma simpatizante da filosofia. Sequer sigo fórmulas prontas pela internet (ex. capsule wardrobe), pois tenho pouquíssima disciplina com regras; vou comprando conforme tenho necessidade mesmo, respeitando minha própria mudança gradual.

O resultado é que praticamente não gastei com roupa esse ano. Aliás, passei boa parte de 2016 vivendo com menos de 15 peças no armário, pois o resto do meu guarda roupas só veio do Brasil mês passado. E, juro, não senti falta alguma de variar no look do dia.

Amanhã é a Black Friday e o marido insistiu para eu fazer uma lista de última hora. Anotei um pijama de frio, um casaco de neve e algumas meias. Ele reclamou, disse que os preços estão ótimos e eu deveria aproveitar. Mas eu simplesmente não sinto necessidade de mais nada.

What you don't have, you don't need it now.