O verão se move completamente alheio ao tempo comum; os dias seguem longos, mas as semanas passam em um piscar. Arrasto-me enquanto contabilizo todas as expectativas de 2025, mas logo me assusto ao trocar a folhinha do calendário. Eu deveria mesmo era estar com alguns projetos do trabalho já meio caminho andado, mas desconfio que essa lentidão me conforte de um jeito preguiçoso.
O verão sufoca. Esse verão particularmente, sendo o mais singular em pelo menos uns 15 anos. Poder me ver refletida nos olhos de outro ser humano soa restritivo, mas hoje em dia carrega uma certa liberdade. Quer dizer, eu sempre me libertei sendo mil pessoas a cada instante, agora eu apenas me desdobro em mil e uma.
Seria típico me desesperar por não conhecer a pessoa que serei quando as folhas avermelharem, mas, hoje em dia, tampouco me reconheço a cada manhã. Melhor, sinto-me até em paz sobre isso. Não pela romantização social, deus me livre, mas por uma certa aceitação exaustiva. No fim, reconheço que a vida sempre foi imprevisível assim, é só que, sozinha, era muito mais fácil manter e me iludir sobre meu controle.
(Queria abrir um parêntese aqui que, olha, antes fosse só o blog. Ultimamente parece que tudo na vida anda meio pausado. Estamos vivendo nessa interminável sala de espera, onde até as mudanças mais drásticas parecem mais do mesmo.)
Eu também senti que, cada vez que levava o layout para um lado mais "formal" - carousel, posts cortadinhos, sidebar cheia de widgets -, menos eu tinha vontade de escrever. Porque não dava para publicar um post como esse, caótico e desestruturado, num layout todo moderno e aesthetic do etsy.
Até pensei em desistir. Ah, se pensei. Precisei sentar, reler, abrir janela, fechar janela, cavucar a mente em um questionamento incessante sobre esse espaço ser algo que eu realmente gosto de fazer, ou apenas mais uma cobrança sem sentido da minha cabeça.
Acho importante mencionar que eu sempre tive muita dificuldade com a escrita. Ainda lembro bem daquele sentimento de pânico quando a professora de redação pedia para arrancarmos uma folha do caderno. Olhar para os lados e enxergar rostos compenetrados, papéis preenchidos enquanto minha folha permanecia em branco, era uma cena tão frequente e traumatizante que acho que ainda revivo a sensação a cada vez que abro o editor para começar um novo post.
Aliás, a ironia de ter escolhido minha profissão pensando no alívio de nunca mais ter uma aula de português ou ser obrigada a escrever uma dissertaçãozinha sequer, até descobrir que, bem, tudo é escrita. Desde a apresentação sobre o modelo mais preciso, até o email informando as conclusões do experimento, quem sabe estruturar frases vai longe também em Exatas, e quanto mais eu encontrar formas de treinar essa habilidade, melhor para mim. Em todos os campos.