Resolvi ouvir o álbum completo e conhecer um pouco mais daquela voz rouca e sussurrada. Só para treinar a língua, eu disse, mas acho que me identifiquei logo de cara. Eram canções maduras, infantis, melancólicas e radiantes, tudo ao mesmo tempo. Todas cantadas por uma mulher experiente e por uma menina que mal começou a viver ainda. As letras falavam, na maior parte, desse sentimento contraditório, ora devastador, ora tranquilo, e de experiências passadas, arrependimentos e desejos.
Eu teria muito o que dizer de cada uma das músicas dela, de como cada uma reflete as minhas próprias percepções, e da poesia, ah, a poesia, a qual essa modelo domina tão bem, e que eu, preconceituosa como sou, jamais imaginaria possível. Mas escolhi essa, que é a minha música feliz. É a que eu escuto no fim daqueles dias cansativos e desolados.
Confesso que foi uma das que menos gostei de início; tanto o título, quanto a melodia me soavam infantis, rasos e inofensivos demais. Até o momento que parei para desenlaçar o que estava por trás das comparações bobinhas com animais. Animais que não se importam com o que se foi, o passado perturbador, ou com o amanhã, o futuro desconcertante. Para os quais o instante é a única escolha e representa a ansiedade, de devorar até as menores migalhas desse vazio que é a existência, e a serenidade de aceitar a morte sem frescuras. Da frase que é repetida tantas vezes; sou a mesma, a mesma do presente, do tempo enlaçado ao êxtase, tudo nessa canção me inspira a viver no presente, sem ponderações, como os elefantes, as panteras e os antílopes.